Filosofia para
crianças: um caminho a seguir
Carmem Maia dos Santos Câmara(UFRN)[1]
Lyzandra Cristina de Araújo Souza(UFRN)[2]
José Francisco das Chagas(UERN)[3]
Maria Reilta Dantas Cirino (UERN)[4]
Resumo
A tradição filosófica aponta que o
ato de filosofar se inicia quando algo desperta nossa admiração. No entanto,
frente a tantas explicações dadas a vários questionamentos surgidos em épocas
passadas o homem perdeu, em parte, a sua capacidade de refletir. Desta forma, é
de fundamental importância que esse comportamento questionador seja estimulado
desde cedo nas crianças. O filósofo Matthew Lipman vem buscando esclarecer
sobre a constituição do pensar na infância e compreende que o crescimento
intelectual infantil pode ser reforçado e melhor elaborado nas mais variadas
situações surgidas em sala de aula, para isso, contudo, entende que é de
fundamental importância a mediação adequado do docente. Nesse sentido, este
artigo tem como objetivo identificar, como ocorre a formação dos professores
que nortearão as discussões filosóficas na infância na proposta de Lipman.
Palavras-chave: Matthew Lipman,
Filosofia, Formação de professores.
Abstract
Philosophy for children: a
way forward
The philosophical
tradition suggests that the act
of philosophizing begins when something arouses our
admiration. However, compared to many
explanations to many
questions that have arisen in
past ages man has lost, in part,
to its ability to reflect. Thus, it is of paramount importance that this behavior is stimulated questioning early in children. The
philosopher Matthew Lipman
has sought clarification on the constitution of thinking in childhood and understands that children's intellectual growth can be strengthened and further developed in various situations
encountered in the classroom for that, however, believes
that it is of fundamental importance
to mediation proper
teaching. Accordingly, this
article aims to identify, as it happens
teacher training that will guide the
philosophical discussions in childhood
in the proposed Lipman.
KEYWORDS: Matthew Lipman, Philosophy, Teacher.
Introdução
Considerando
esses aspectos, o filósofo norte americano, Matthew Lipman, vem desde a década
de 60 buscando esclarecer sobre a constituição do pensar na infância e elabora
um Programa de Filosofia para Crianças – FpC. Este artigo, desenvolvido dentro
das atividades do Projeto de Pesquisa/PIBIC “Filosofia na infância:
perspectivas para o debate”, ofertado pelo Curso de Filosofia da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Caicó, no período de 2011 a 2012,
tem como objetivo apresentar pontos a respeito da importância em se trabalhar a
filosofia na infância como também a formação do profissional que deve fazer
este trabalho em sala de aula. Dentre os diversos aspectos abordados nos
estudos no referido projeto de pesquisa, enfocaremos no presente trabalho, aspectos
sobre o currículo de filosofia para crianças e a formação do docente para
trabalhar com a referida proposta, utilizando como referencial teórico,
principalmente, as obras de Matthew Lipman, tais como “Filosofia na Sala de
Aula” (2001), e “A filosofia vai à escola”, (1990).
Para o trabalho de filosofia na infância é
imprescindível uma preparação na sala de aula, um currículo pensado para essa
finalidade, bem como para que a proposta atinja seus objetivos é de fundamental importância
que o professor tenha uma boa formação, que seja um profissional habilidoso
para conduzir seus alunos em discussões filosóficas. Insere-se, nesse contexto,
a elaboração dos combinados entre professores e alunos, alunos e alunos, os
quais conduzirão uma boa discussão, sendo tal aspecto metodologia primordial no
desenvolvimento dessa proposta. Porém, antes que haja os exercícios mentais,
indagações, reflexões, tomadas de decisões, as formações de conceitos e
reelaborações de tais, sabe-se que as crianças, quando não exercitadas no
desenvolvimento do pensar, da argumentação e contra argumentação, vão aos
poucos se habituando e aceitando com naturalidade as explicações dadas pela sua
cultura, sem manter o hábito de pensar, de investigar.
O que elas procuram não são respostas prontas
e ensaiadas, mas sim, um caminho que leve a várias possibilidades de respostas
aos vários questionamentos, a caminhos que satisfaçam ou favoreçam o “caminhar
do pensamento”. Contudo, os adultos, quando não as mandam fazerem silêncio, dão
excessos de respostas. Segundo Lipman (2001, p. 58) “Um excesso de respostas
pode matar a curiosidade da criança. Queremos ajudá-la a descobrir o que
precisa saber sobre o problema com o qual está lidando sem prejudicar sua
curiosidade dizendo mais do que deveria saber.” Da mesma forma, é preciso
considerar que a falta de atenção, causa recusa em fazer novos questionamentos,
por perceberem que suas ideias não têm “valor”, passam simplesmente a
reproduzirem o que estão vivenciando.
A Filosofia, por sua natureza, tem uma
ligação com o saber, e não é qualquer saber, é um saber que se mostra relevante
na vida do homem. Da mesma forma as crianças usam dessa relevância em seus
questionamentos, não aceitando qualquer resposta para suas indagações. As
pessoas ao se depararem com as indagações extraordinárias das crianças, não se
dão conta que estas estão fazendo uso da reflexão filosófica.
Embora as crianças sejam por natureza
investigativas, à medida que vão crescendo, elas passam a deixar de lado este
espírito de pesquisa, para observar e “copiar” os adultos. Dessa forma, com
esses atos, muitas vezes a capacidade de reflexão e de espanto não acontece,
pois, segundo Iglésias (2005, p. 15),
... se
por um lado, é normal ao ser humano espantar-se, interrogar, é por outro lado
normal que não se espante nem se interrogue muito. Sendo a maioria das pessoas
pouco exigente, às explicações dadas [...], e, assim sendo a filosofia não
acontece.
Em
relação à etapa de desenvolvimento denominada infância, se o exercício do
filosofar for oportunizado às crianças e sendo dado o devido valor às
discussões, interrogações e opiniões das mesmas, a capacidade de reflexão nunca
irá ser deixada de lado. Elas terão a possibilidade de serem crianças e futuros
adultos reflexivos.
Matthew Lipman percebeu que as crianças
poderiam e deveriam participar de questionamentos filosóficos em suas aulas,
pois notou certa dificuldade na prática do raciocínio, formação de opiniões,
elaboração de pensamentos críticos, exposição de ideias, julgamentos de
opiniões em seus alunos já adultos na faculdade. Foi por perceber estas
dificuldades que o filósofo, educador e professor de Lógica na Universidade de
Columbia, desenvolveu um programa voltado para trabalhar filosofia para
crianças. Esse programa consiste em transformar salas de aula em comunidades de
investigação, onde seriam desenvolvidas as inteligências emocional, cognitiva e
social das crianças (Lipman, 1998). Pensando nisso, Lipman elaborou textos
filosóficos (ou novelas filosóficas) voltados para a infância. Esses textos
servem de instrumentos para trabalhar os exercícios mentais que, na visão de
Lipman, devem ser desenvolvidos desde a mais tenra idade, a fim de que o
pensamento e a reflexão crítica possam ser melhor elaborados pelas crianças em
detrimento das respostas prontas ou da mera
memorização sem compreensão.
As novelas filosóficas levam os alunos a
raciocinarem primando essencialmente pelo diálogo, de modo que uma criança que
lê a novela e não tem a oportunidade de se expressar, de refazer seus
pensamentos, de ouvir outras opiniões e reformular novamente o seu raciocínio,
está privada da parte essencial da filosofia para crianças, que é o diálogo.
A primeira novela está voltada para a 1ª e 2ª
séries, denominadas de “Elfie” e “Issao e Guga”. Essa é acompanhada dos manuais
para os professores e volta-se para a aquisição da linguagem, através de
diálogos e raciocínio sobre os sentimentos; já para a 3ª e 4ª séries trata-se
da novela filosófica “Pimpa”, contendo também um manual e exercícios. Nela é
dada ênfase a assuntos ambíguos e noções filosóficas abstratas; a novela “A
descoberta de Ari dos Telles” voltada para 5ª e 6ª séries, possui o manual do
professor “investigação filosófica” que traz a identificação das ideias de cada
capítulo com respectivos exercícios para estes. A novela dá ênfase à aquisição
da lógica formal e informal, trata-se de uma proposta de educação não
autoritária e antidoutrinadora, mostrando também como as crianças são capazes
de aprender umas com as outras, esboçando e desenvolvendo métodos alternativos
de pensar. Para as 7ª e 8ª séries, a novela “Luisa” aborda a investigação
ética, da linguagem e dos estudos sociais. (LIPMAN, 1990).
A filosofia na infância não é usada com
linguagem rebuscada ou estudando autores e filósofos renomados, ao contrário,
estes nem são citados, pois é mais importante a elaboração do pensamento do que
decorar falas e/ou teorias de filósofos que viveram em
realidades distantes das crianças. A função da filosofia para crianças é outra
como diz Lipman (2001, p. 81) “O objetivo primordial de um programa de
Filosofia para Crianças é ajudá-las a aprenderem a pensar por si mesmas”. Assim,
de que maneira as crianças são exercitadas em seus pensamentos? As crianças são
levadas a desenvolverem a capacidade de raciocinar e fazer inferências, a estimular
a criatividade, a encontrar sentido em experiências discutidas, a descobrir
alternativas a questionamentos diversos, bem como encontrar a coerência em seus
pensamentos, pontos estes essenciais ao crescimento pessoal e intelectual de
qualquer pessoa.
A filosofia para crianças não busca
introduzir valores, ou pensamentos que já são estabelecidos e há muito
estudados. Não é uma disciplina que deve ser decorada e usada para o resto da
vida. Ela leva os alunos a pensarem sobre si mesmos e sobre os fatos e objetos
do mundo no qual estão inseridos, o que acaba por auxiliar as outras
disciplinas no currículo escolar. Fazer uso da lógica para resolver problemas,
pode favorecer naturalmente maneiras novas de pensar, reconhecendo e/ou excluindo erros normalmente utilizados em pensamentos já moldados.
Daí a importância em se usar filosofia na infância: a certeza de que um caminho
de descobertas e redescobertas será trilhado na vida das crianças que a ela tem
acesso. Conquanto, para que o Sistema Educacional possa trilhar esse caminho,
um dos aspectos fundamentais é a formação do docente para atuar na mediação do
dialogo filosófico.
A proposta de Lipman defende que para se
trabalhar com crianças é necessária uma formação específica que habilite os
professores a “... lidar com o rigor da lógica, com os sensíveis temas da ética
e com a complexidade das questões metafísicas...” (LIPMAN, 2001, p. 74). No
entanto, os cursos de formação de professores de filosofia não oferecem de
forma sistemática uma abordagem que possa fundamentar a prática de filosofia
com crianças. É mais fácil encontrar filósofos e esses receberem uma formação
complementar para trabalharem com crianças, que encontrar profissionais de
outras áreas e esses serem iniciados na filosofia. Lipman (2001, p.74) defende
que “... os professores sejam formados através das mesmas abordagens didáticas
que se supõe utilizem com seus alunos...”. Essa abordagem é importante para o
professor se colocar no lugar do aluno e perceber os caminhos que o pensamento
ou reflexão podem tomar. Assim, o autor
continua afirmando que:
Se se
espera que os professores coordenem um diálogo, devemos lhes dar a oportunidade
de participar de diálogos filosóficos e modelar a coordenação de uma discussão
de maneira filosófica. Se se espera que os professores consigam fazer com que
seus alunos tenham um comportamento questionador, devem ser formados por
professores que modelem esse tipo de comportamento nas aulas. Se se espera que
os professores ensinem as crianças a raciocinarem, devemos proporcionar-lhes
prática no raciocínio que eles mesmos esperam de seus alunos. E é desnecessário
dizer que os professores no processo de formação devem ser estimulados a
respeitar os procedimentos da investigação se devem incutir em seus alunos o cuidado
com esses procedimentos. (LIPMAN, 2001, p. 75).
Com esse intuito, a proposta lipmiana
apresenta uma formação que perpassa por quatro estágios, tendo em princípio a
formação dos monitores, os quais formarão os futuros professores. A formação
dos professores é dividida em três etapas, quais sejam: o estágio de exploração
do currículo, o estágio modelador e o estágio de observação. Vale enfatizar que
estes três últimos estágios consistem no preparo dos professores. Quanto ao
preparo dos monitores, Lipman (1990,
pp. 176 -177) assevera que:
A prática
atual de formação de monitores para prepararem professores de filosofia de 1º e
2º graus acontece em quatro estágios. O
preparo de monitores. São candidatos os que têm um sólido conhecimento
filosófico: professores de filosofia de faculdade, portadores de títulos em
filosofia [...]. Futuros monitores freqüentam uma oficina de dez dias, na qual
conhecem o currículo, têm a possibilidade de conduzir sessões individuais e
discutir assuntos relevantes detalhadamente. [...] Logo após, o futuro monitor
passa a ser um ‘filósofo em residência’ numa sala de aula, por quatro a seis
semanas, para adquirir experiência no trabalho com crianças – um pré-requisito
para estabelecer credibilidade junto aos professores. Sempre que possível, o
aprendiz trabalha junto com um monitor mais experiente antes de se lançar numa
carreira independente.
O
segundo estágio acontece com o preparo dos professores, que consiste em uma
oficina com grupos de quinze ou vinte docentes e um monitor. É um seminário de
investigação de currículo que dura de três a quatorze dias. Os mais curtos
lidam com apenas um programa (de 5ª e 6ª séries, por exemplo) outros mais longos
que tratam de dois programas. De acordo com Lipman (1990, p. 177) “... em geral, espera-se que os professores experienciem
este estágio quase que do mesmo modo que seus futuros alunos o farão”. Tal ação
é de grande valia por proporcionar aos professores um momento de estar no lugar
dos alunos. Os cursos começam com a leitura em voz alta, do mesmo modo que
seria na sala de aula. Esta leitura propicia a experiência em ouvir a linguagem
do texto e escutar aos outros participantes tanto do curso quanto das aulas, a
fim de trocarem experiências e significados compartilhados.
Após a leitura, a qual Lipman não aconselha
ser feita silenciosamente para não haver isolamento de alunos, o monitor
solicita à classe que sejam feitas os tópicos para a discussão a seguir. É
importante observar que para cada idade deve-se ter uma linguagem específica e
um meio diferente de abordagem. Para alunos muito jovens não é comum que esta
abordagem seja feita, pois as opiniões das crianças ainda não estão sendo
solicitadas pelos adultos, o que pode causar um desconcertamento entre os
pequenos. Já com alunos mais velhos, pode-se perguntar sobre seus
questionamentos, perplexidades, posicionamentos em cada situação apresentada. Este
é um modo de chamar atenção para o que é problemático no texto em vez de para
aquilo que está claro. Essa mediação assegura que perguntas e comentários
surjam de um envolvimento do aluno com as questões. Após as indagações é
escrita as respostas no quadro, seguidos da discussão, seja por votação de
assunto ou agrupamento. (LIPMAN, 2001).
É
interessante destacar a tarefa do coordenador, que é de manter viva a
discussão, o interesse causado pela leitura, na sala de aula e incentivar o
diálogo aluno-aluno. Na preparação de uma sessão, o coordenador revisa o manual
do professor selecionando um grupo de exercícios que se encaixe com a turma, a
fim de se melhor enfocar filosoficamente a prática entre discussões livres e
aplicações de exercícios específicos.
O
terceiro estágio de preparação dos
professores é o estágio modelador,
que acontece após seis semanas do início do professor ter executado o programa
em sala de aula. Aqui os monitores adentrarão em sala de aula e tomarão o
espaço para demonstrarem aos professores a forma de tratar a matéria do dia.
... os
monitores devem entrar efetivamente nas salas de aula, assumir a lição do dia,
e demonstrar ao professor, com seus próprios alunos, como o monitor trata a
matéria. [...] Estas sessões modeladoras [...] produzem esse mínimo de
habilidades, de atenção pessoal que separa este modo de educação de professores
dos cursos tradicionais que meramente exigem que o professor fale (e não que
mostre) como os alunos devem ser ensinados. (LIPMAN, 1990, p. 180).
O quarto estágio de preparação de professores
chamado de estágio de observação, acontece seis semanas mais tarde, onde os monitores
voltam à sala de aula para observar e avaliar (oral, escrita ou em ambas) o
professor no que diz respeito ao progresso e execução do programa, como podemos
perceber na afirmação abaixo:
...o
monitor pode perguntar ao professor questões importantes como ‘o que você me
viu fazer que você não fez?’ ou pode revisar questões como a falha em perseguir
um questionamento ou a deficiência do professor de envolver todos os membros da
classe. Os treinadores usam listas de critérios para aferir o desempenho do
professor, e os professores são encorajados a conhecer estes critérios para que
possam também fazer uma auto-avaliação mais crítica. (LIPMAN, 1990, p. 180).
É
importante destacar que os monitores são mais familiarizados com a filosofia
enquanto os professores segundo (LIPMAN 1990, p.180) “tiveram pouco (e às vezes
desagradável) contato com esta disciplina.” Por isso que é de fundamental
importância a parceria entre estes profissionais na filosofia para criança.
Lipman
afirma que uma das preocupações dos professores é em saber como distinguir uma
discussão filosófica de uma não filosófica, pois os monitores nunca se
preocuparam em fazer tal distinção. É importante fazer abordagens normativas e
descritivas ao ensino do raciocínio, que aos poucos irão sanar as preocupações
dos professores, que não se tornaram filósofos, mas sim competentes em conduzir
questões filosóficas para crianças.
Quantos
aos livros-textos, estes conduzem ao exercício do raciocínio e às descobertas
de pontos de vista filosóficos alternativos que foram apresentados no decorrer
dos séculos. Contudo o papel do professor é primordial na condução das
discussões filosóficas, por serem os responsáveis pela manipulação do ambiente
com o intuito de favorecer a consciência filosófica das crianças. Por fazerem
surgir os temas de discussão, é o professor quem deve saber o momento certo de
introduzir um tema adequado a partir de um questionamento e que conduz os
alunos ao seu entendimento. Sobre a participação do professor, Lipman (2001, p.120) infere que:
A
investigação filosófica entre as crianças, mais do que qualquer coisa, depende
de um professor que compreenda as crianças, seja sensível aos temas filosóficos
e capaz de manifestar, no seu comportamento diário, um profundo compromisso com
a investigação filosófica [...]. O ingrediente mais importante do programa de
Filosofia para Crianças é um corpo de professores capaz de modelar uma
interminável busca de sentido para obter respostas mais compreensivas a
respeito de assuntos mais importantes da vida.
O texto supracitado ratifica a ideia de que
os professores, para trabalharem com filosofia na infância, precisam de um
treinamento que o habilite para tal compromisso, tendo em vista a necessidade
que há de seu entrosamento com os temas filosóficos e com a prática da
investigação filosófica.
Não é bastante ter uma formação filosófica e
não saber lidar pedagogicamente com as crianças. Por outro lado, não basta ter
uma formação na área pedagógica e não conhecer as ferramentas necessárias para
conduzir discussões filosóficas. Contudo, para os professores conseguirem
tornar a sala de aula um ambiente gerador de discussões e reflexões, não basta
somente ter uma formação em Pedagogia ou Magistério, é preciso um treinamento específico
para trabalhar a Filosofia para Crianças. “... às vezes os professores têm
cursos de filosofia da educação. Raramente têm cursos de lógica ou de
filosofia. Mas tais cursos são inúteis no que se refere a preparar o professor
para incentivar as crianças a pensarem filosoficamente (LIPMAN, 2001, p. 74).
Conquanto, o professor de filosofia para
crianças tem que ser habilidoso, não somente em conduzir discussões, ele
precisa ser um modelo com o qual as crianças possam se identificar. Tem que ser
um profissional que desafie seus alunos, que as faça se sentir a vontade em
refletir e se expressar, em elaborar pensamentos, e não aceitarem qualquer
resposta ou memorizar fatos e falas. Tem que ser bom ouvinte, e saber
interpretar e entender o que as crianças querem dizer, inclusive as linguagens
não verbais que elas possam expressar. E para isso é necessário um ambiente
adequado onde perpassa uma relação de confiança entre o professor e os
alunos. Segundo Lipman (2001, p. 143)
“Os componentes mínimos de um ambiente adequado para incentivar uma criança a
pensar filosoficamente são um professor questionador e um grupo de estudantes
preparados para discutir aquelas coisas que realmente interessam a elas”, para
isso o professor deve manifestar sua autoridade como um arbítro e não com a imposição
de suas ideias ou levando o pensamento das crianças para fatos e conceitos que
ele acredita. Daí a importância em se ter uma preparação para se trabalhar a
filosofia para crianças.
Considerações
Finais
Diante do
que foi estudado e, sucintamente, apresentado neste trabalho, pudemos inferir
que incentivar as crianças a pensarem filosoficamente não é uma tarefa fácil. Contudo
foi possível identificar nas nuances desse caminho de uma filosofia para
crianças, dois aspectos fundamentais: um currículo específico e uma adequada
formação do docente. Mediante os estudos realizados compreendemos que mesmo
sendo a definição curricular relevante, é formação dos professores, um dos
caminhos, ou o caminho primordial, a ser seguido para que o trabalho com
filosofia na infância seja uma possibilidade real nas escolas e essa
possibilidade ao ser concretizada, transcorra com sucesso.
É preciso
que este adquira a partir de sua formação, habilidades de conduzir discussões
filosóficas, de estimular o pensamento e facilitar a capacidade de expressão
das crianças, de verdadeiramente ter uma formação que o capacite e o
predisponha a, em uma atitude de respeito, aprender com as crianças.
Os exercícios
mentais, proporcionados no ambiente da atividade filosófica com crianças, são
importantes para que as mesmas não percam, no decurso de sua formação humana, a
capacidade investigativa que lhes é inerente. Acreditamos que é de fundamental
importância o trabalho com filosofia para crianças, visto que as discussões
filosóficas favorecem a estimulação do pensamento, e, por consequência a
construção do conhecimento arraigado no pensar crítico e reflexivo que
contribuirá na formação de crianças e adultos capazes de fazerem julgamentos críticos
e criteriosos e assim tomarem posições coerentes em concordância ou em
discordância, quais compreendem o sentido e as consequências para si mesmas,
para o contexto em que se inserem e principalmente para o outro, seu semelhante.
Referências
KOHAN,
Walter Omar; WUENSCH, Ana Míriam. (Orgs.). Filosofia para crianças: a tentativa pioneira de Matthew Lipman. 3. ed. Petrópolis, RJ. Vozes,1998.
Grupo de Pesquisa “Filosofia e Educação”, do
Curso de Licenciatura em Filosofia do Campus Caicó – UERN. Projeto de Pesquisa Filosofia na
infância: perspectivas para o
debate. E-mail: mariareilta@hotmail.com
[1]Membro do Projeto de Pesquisa
“Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. carmemmscamara@hotmail.com
[2]Membro do Projeto de Pesquisa
“Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. lyzandracristina@hotmail.com
[3]Professor do Curso de Licenciatura
em Filosofia-DFI/UERN e membro do Projeto de Pesquisa “Filosofia e infância: perspectivas para o
debate”/DFI/UERN. dedasouza1@gmail.com
[4]Professora do Curso de Licenciatura
em Filosofia-DFI/UERN e coordenadora do Projeto de Pesquisa “Filosofia e
infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. mariareilta@hotmail.com
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