domingo, 19 de março de 2017


ARTIGO APRESENTADO NO II CBPFIL/UFPE/RECIFE/2012:


A CRIANÇA QUE FILOSOFA

Alaci Bernardo Nascimento de Medeiros (UERN)[1]

Daniele de Moura Oliveira (UERN)[2]

José Francisco das Chagas (UERN)[3]

Maria Reilta Dantas Cirino (UERN)[4]

 
RESUMO: Este artigo pretende abordar o que acontece com a criança que é capaz de filosofar. Levando em consideração os estudos que se tem realizado sobre as concepções de infância, bem como as práticas discutidas para que o ato de filosofar na criança realmente aconteça. Embora, saibamos que alguns estudiosos discordam que a criança filosofa, tais como Ghiraldelli Jr. (2009), Silveira (2001), entre outros. Nós discorremos sobre o pensamento de Matthew Lipman (2001), o qual concebe a criança como Ser capaz de raciocinar de maneira lógica, ou seja, exercer seu ato de filosofar. Os estudos de Lipman apontam que a criança é capaz de raciocinar logicamente desde a mais tenra idade, e de que sendo essa possibilidade oportunizada nas instituições educativas desde a educação infantil, potencializa-se a formação de indivíduos que terão ações guiadas por princípios e valores que compreendem e por isso tornam-se críticos, criteriosos e reflexivos. Nesse sentido, a educação institucional assume a importância de desenvolver o ato de filosofar no cotidiano das crianças.

PALAVRAS-CHAVE: Filosofia. Criança. Educação.

 

INTRODUÇÃO

As concepções voltadas para a filosofia na infância vêm sendo enfatizadas no Sistema Educacional tanto na Educação Infantil como nos anos iniciais do Ensino Fundamental através de iniciativas de profissionais (KOHAN, 2000; LORIERI, 2000; WONSOVICZ, www.portaldafilosofia.com.br/, entre outros) que valorizam a prática filosófica nas escolas, uma vez que, o currículo educacional oficial do país não contempla a área de Filosofia em tais níveis de ensino. Observamos nas publicações disponíveis sobre essa temática que tem ficado a cargo de cada instituição inserir em sua proposta educacional situações de experiências filosóficas.

            Nesta perspectiva, a priori buscamos nas concepções de Matthew Lipman uma referência de como abordar a filosofia para a infância, tendo em vista ter sido esse filósofo norte americano o primeiro a sistematizar uma proposta de filosofia para a infância. Sabendo que existem outros posicionamentos voltados quanto à prática filosófica para a criança, bem como cientes das críticas a essa proposta, tais como Silveira (2001) e Ghiraldelli (2009) e os conceitos que se tem com relação a essa temática sobre a possibilidade ou não das crianças filosofarem. É importante destacar que considerar essa possibilidade somente é possível a partir de uma concepção de infância, em que a mesma deixa de ser vista como um ser imaturo, incapaz, sempre a sombra da figura do adulto.

            Neste artigo, que é parte das discussões empreendidas ao longo do Projeto de Pesquisa/PIBIC: “Filosofia na Infância: perspectivas para o debate”, ofertado pelo Curso de Licenciatura em Filosofia/UERN, Campus Caicó, no período de 2011-2012, nos ocuparemos em apontar, partindo das leituras realizadas, as nuances desse encontro entre a criança e a filosofia, mediante a análise da capacidade da criança para o pensar,  o currículo presente nessa proposta e a adequada mediação do docente construindo uma relação educativa com as crianças numa dimensão que  ultrapassa as barreiras e etapas do desenvolvimento entre o ensinar e o aprender através da reflexão dialógica. Nesse sentido questionamos e buscaremos discorrer sobre: Criança é capaz de filosofar? Como exercitar a criança no filosofar? O que acontece com a criança que filosofa?

 
CRIANÇA É CAPAZ DE FILOSOFAR?

 
O filósofo Comênio (1592-1670), em pleno século XVII, foi o primeiro teórico a perceber a criança como um ser de sentimento e inteligência. Posteriormente, Rousseau concebe a criança com potencial inerente a sua natureza e que a educação deveria ser pensada respeitando as etapas específicas do desenvolvimento infantil.  (Nova Escola, 2008).

            Apenas recentemente, a partir do Século XVIII, de acordo com Ariés (2004, p. 23), começa a aparecer nos escritos dos estudiosos o conceito de criança, como podemos perceber na afirmação abaixo:

 

... a civilização [...] não percebia um período transitório entre a infância e a idade adulta. Seu ponto de partida, então, era uma sociedade que percebia as pessoas de menos idade como adultos em menor escala.                                                                                                                

 
            Dessa forma, a criança era considerada um adulto inacabado, por isso não se levava em conta sua capacidade intelectual de pensar.  A priori, para o filósofo Aristóteles só os homens (adultos) são capazes de filosofar. Mas esse adulto em que a criança era considerada baseava-se em um “adulto” que servia apenas para obedecer a ordens do cotidiano doméstico. Incapaz de expor suas necessidades, vontades, opiniões.

Kohan (apud SARMENTO e GOVEIA, 2009, p. 45) nos lembra em seu escrito “Infância e Filosofia” que “... para Aristóteles toda criança é inacabada, incompleta, imperfeita por natureza e essa falta de completude estende-se aos planos ético e político”. Encontrando-se em nível mais baixo na polis e por ser seres energéticos (munido pelas sensações) o mundo da razão para as mesmas, não teria espaço, já que exigiria mais da concentração racional nas indagações políticas e éticas.

               Quando a criança passa a ser vista em seu contexto de infância, ou seja, a partir de necessidades específicas para essa etapa do desenvolvimento infantil, as concepções e estudos sobre as mesmas foram se modificando e os olhares e atividades dos adultos voltavam-se para um ser que, apesar de tenra idade, é capaz de conceber e transformar o mundo que a cerca. Nesse sentido é que a Filosofia na infância deve ser compreendida: seres que apesar de em uma etapa inicial de seu desenvolvimento tem em si a capacidade desenvolver o pensar, a reflexão sobre as coisas. Assim, a Filosofia na infância é proposta como uma prática. Nas palavras de Kohan (2008, p. 15): “Deve-se entender, portanto, a expressão filosofia para crianças,(sic) [...], como uma tentativa de levar a prática da filosofia às crianças, tentativa de tornar a história da filosofia acessível para que as crianças filosofem com ela.”

E ainda Lipman (1990, p. 13) assevera:

  

... a filosofia oferece às crianças a oportunidade de discutir conceitos, tais como o de verdade, que existem em todas as outras disciplinas mas que não são abertamente examinados por nenhuma delas. A filosofia oferece um fórum no qual as crianças podem descobrir, por si mesmas, a relevância, para suas vidas, ...

 

A relação entre a Filosofia e a infância é possível a partir da consideração da natural postura de admiração, curiosidade e de questionamento infantil, bem como a sua capacidade de reflexão e de pensar.  Segundo Lipman (2001), essa capacidade é natural no ser humano e esse autor afirma que, diferente de outras habilidades naturais, o pensar, pode ser aprimorado: “O pensar é natural mas também pode ser considerado uma habilidade passível de ser aperfeiçoada (LIPMAN, 2001, p.34). Neste contexto, a criança passa a ser considerada como capaz de agir, atuar, opinar e refletir as coisas de seu cotidiano. Assim podemos perceber que tais aspectos geram a perspectiva de uma atividade filosófica para a infância.

Neste mesmo prisma, o filósofo John Dewey (1859-1952), percebe a criança como um ser pensante, de ação, numa perspectiva global, capaz de comunicar-se com o outro através do diálogo e das experiências cotidianas.

 
 ...,a vida da criança é integral e unitária: é toda única. Se ela passa , a cada momento de um objeto para outro, como de um lugar para outro, o fará sem nenhuma consciência de quebra ou transição. Não há isolamento consciente, nem mesmo distinção consciente. A unidade de interesses pessoais e sociais que dirigem a sua vida mantém coesa todas as coisas que a ocupam. Para ela, aquilo que aprende seu espírito constitui no momento, todo o universo, que é assim, fluído, desfazendo e refazendo-se com espantosa rapidez. (DEWEY,1965, pp.43-44, apud Westbrook,R.B. John Dewey,2010,p.70).

 

            Percebemos, desta forma, a infância (criança), não mais como objeto e sim, sujeito pensante que abre espaço para um pensar filosófico, no qual a filosofia também faz parte de seu mundo, pois a pensa, produz, reflete, transforma, duvida, através de um processo constante e inacabado.

                        Mediante as investigações sobre o pensamento infantil e as descobertas realizadas ao longo dos anos através de estudos e práticas, em especial, recentemente as reflexões de Lipman sobre esse diferenciar sistemático do filosofar infantil, pode-se afirmar que: sim, a criança é capaz de filosofar!

 
COMO EXERCITAR A CRIANÇA NO FILOSOFAR?


            Historicamente, quando a infância passou a ser considerada em suas especificidades, como já apontado anteriormente, a Educação passa a ter uma nova postura educacional quanto à participação das crianças no processo de se obter conhecimentos, preocupando-se, assim, com os conteúdos e metodologias a serem adotadas e, em especial, a postura de educadores. Havendo desta forma uma preocupação com o pensamento infantil, buscou-se como seria a participação da criança mediante as coisas que acontecem no mundo a sua volta. Então, como buscar dela essas respostas? E como tornar possível a sua participação efetiva em seu cotidiano?

            Nesta perspectiva Lipman, propôs exercitar o ato de filosofar, desde a infância, elaborando para isso, material específico denominado de novelas filosóficas. Nas novelas se busca por meio de histórias, com temáticas que estão presentes no cotidiano das crianças, envolvendo situações em que as mesmas através do diálogo reflexivo constroem seus conceitos sobre verdade, mentira, vida, morte, ganhar, perder, bem, mal, entre outras que envolvam sensações, racionalidade que perpassam pelas questões de ética, política, valores e crenças presentes na realidade da vida infantil. Lipman (2001, pp.146-147), assim identifica o potencial de suas novelas filosóficas:

  

Um dos méritos das novelas do programa de Filosofia para Crianças é que oferecem modelos de diálogo, tanto entre crianças como entre crianças e adultos. São modelos não- autoritários e não-doutrinadores, que respeitam os valores da investigação e do raciocínio, incentivam o desenvolvimento de modos alternativos de  pensamento e imaginação, e descrevem como seria viver numa comunidade onde as crianças  tivessem seus próprios interesses e se respeitassem como pessoas capazes de, às vezes, participarem de uma investigação cooperativa sem nenhuma outra razão que a satisfação que têm em fazê-la.

 

            Por isso os temas e discussões propostas preocupam-se, primeiramente, com o pensamento infantil, ajudando as crianças a descobrirem que podem pensar e pensar de forma organizada, crítica e criteriosa. Nas discussões filosóficas, as mesmas, passam a pensar sobre o seu pensar e por isso, sistematizam suas ideias e reflexões de forma dialógica. Assim, considerando sempre seus conceitos já formados como possibilidades para novos, mediante as discussões de temas que estão presentes em seu cotidiano. Mas, esta prática só é possível quando existe uma proposta voltada para que as crianças possam aprender, uma com as outras, e, principalmente, aprender a saber ouvir, pensar, falar e respeitar o outro, seja com sua opinião ou omissão nos momentos de diálogo. Por isso é imprescindível o papel do adulto mediador, o mesmo, precisa ter habilidade e saber como posicionar-se, mediante as discussões, gerando um ambiente de confiança, dando espaço aos questionamentos, reconhecendo oportunidades de intervenção nos momentos em que as ideias podem ser ampliadas, compartilhadas e reforçadas. (LIPMAN, 2001).

Lipman (2001, p.151) afirma que: “... o professor tem que ter em mente, as distinções [...] entre discussões científicas, religiosas e filosóficas, além de manter essas sutis distinções como guias ao incentivar as crianças a pensarem filosoficamente.”

Desta forma o papel do educador(a) é imprescindível como formador(a) da elaboração do pensar filosófico das crianças, uma vez que, o diferenciar entre filosofar e o apenas evidenciar posições, perpassam por situações complexas da individualidade como, por exemplo, as concepções e reflexões das ações humanas no mundo. Por isso, Lipman (2001, p.151), nos lembra que:

  

O professor deve estar consciente de que o que começou como uma discussão filosófica pode facilmente transformar-se numa disputa sobre informação, factual que só pode ser liquidada buscando a evidencia empírica disponível. Uma vez que a discussão haja tomado esse rumo, o papel do professor é sugerir onde a evidencia empírica pode ser encontrada, em vez de continuar especulando.

 

            O(a) professor(a) mediador(a) das discussões filosóficas precisa ter consciência de sua responsabilidade enquanto mediador(a) dialógico, buscando desta forma apontar possibilidades filosóficas ou não que poderão surgir mediante as discussões e saber posicionar-se de forma clara, interferindo de maneira a instigar sempre uma discussão pautada no conhecimento filosófico, para tal, é preciso à disponibilidade do mesmo e a postura dialógica de real interesse pelas opiniões infantis.

Esse princípio requerido do(a) docente/mediador está presente na afirmação de Lipman (1990, p.173), quando aponta que “O ensino da filosofia requer professores que estejam dispostos a examinar idéias, (sic) a comprometer-se com a investigação dialógica e a respeitar as crianças que estão sendo ensinadas”.

Segundo Lipman (ibidem) os métodos utilizados pelos professores no Sistema Educacional vigente não levam ao diálogo filosófico, tão pouco os professores do contexto atual estão dispostos a apreciar as ditas discussões intelectuais das crianças, muito menos o raciocínio infantil, o qual é considerado imaturo pela maioria dos docentes.

Nesse sentido abre-se espaço para propor um currículo voltado à criança que é capaz de pensar e pensar de forma sistematizada, uma vez que as concepções que se tinha sobre as mesmas, atualmente, estão sendo revistas e as possibilidades das mesmas filosofarem vem sendo consideradas. A criança passa a ser autora da sua própria história, por isso, suas considerações sobre o mundo que a cerca, passam a ser consideradas. Pois as mesmas são seres de possibilidades. Chauí (2001, p.155), quando retrata a inteligência humana advindas das experiências do psicólogo Köhler, retrata a criança como um ser capaz de: “... se relacionar com o tempo e transformar seu espaço por essa relação temporal. A criança representa seu mundo e atua praticamente sobre ele. Sua inteligência difere, portanto, da do animal”. (Chauí, 2001, p.155).

Neste pensar infantil, é aberto espaço para a curiosidade que as crianças tem sobre as coisas a sua volta e muitos estudiosos identificam na curiosidade infantil o espírito filosófico. Os(as) educadores(as) precisam desta inspiração para que o filosofar se torne fonte de descobertas inacabadas e prazerosas nos diálogos coexistentes entre professor(a) e aluno(a).

Para complementar sobre esse aspecto da natural curiosidade, na qual a filosofia nos faz habitar, encontramos suporte também nas palavras de Freire (2004, p. 86), quando atribui ao diálogo grande potencial educacional. É no exercício dialógico do(a) educador(a) e do(a) educando(a) arraigados do pensar movido pela curiosidade e indagações regadas na filosofia da vida no mundo, em especial, no mundo infantil. Nesse sentido, o autor afirma:

 
Estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria pergunta, o que se pretende com esta ou aquela pergunta em lugar da passividade em face das explicações discursivas do professor, espécies de respostas a perguntas que não foram feitas. Isto não significa realmente que devemos reduzir a atividade docente em nome da defesa da curiosidade necessária, a puro vai-e-vem de perguntas e respostas, que burocraticamente se esterilizam. A dialogicidade não nega a validade de momentos explicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O fundamental é que o professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não passiva, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (FREIRE, 2004, p. 86).

 

Por isso, a proposta curricular de Lipman só vem a contribuir com esse pensamento com relação à competência infantil e a postura da mediação do(a) educador(a) nesta perspectiva, uma vez que, mediante os estudos e experiências apontados nessa discussão, levam em consideração esses três aspectos: o pensar infantil, a metodologia abordada e a postura do(a) educador(a).

O QUE ACONTECE COM A CRIANÇA QUE FILOSOFA


            Levando em consideração os estudos pautados na capacidade do pensar infantil, o currículo e a postura do(a) educador(a) mediante a prática filosófica, objetivam-se que a participação e posturas das crianças se aprimorem cada vez mais, através do processo dialógico.

Nesta perspectiva, as crianças serão capazes de expor suas opiniões contrárias se acharem que os conceitos estabelecidos nas discussões foram definidos de maneira incorretas. Poderão desenvolver um pensamento questionador na troca das experiências uns com os outros - relação intrapessoal e com elas mesmas – relação interpessoal. Serão assim capazes de saberem o momento de omissão em determinada situação, ação, questão, mediante as indagações, considerações ao longo do processo de investigação filosófica.

Esses procedimentos terão o potencial de fazer com que as crianças não se sintam inibidas em sugerir meios e/ou fins de se chegarem ao processo investigativo e/ou reflexões ao tema em questão. Sentindo-se capazes de lidar com questões de forma mais profunda, disponibilizando-se a um pensar abrangente, criterioso, sistematizado, e, acima de tudo, reflexivo. Assim a autonomia antes negada, passa a ser critério de formação e de desenvolvimento. Mas, o que caberia neste sentido dizer que a criança passaria a ser autônoma? Torna-se necessária a compreensão sobre o que viria ser autonomia. Japiassú (1996, p. 21), identifica que autonomia é a “Liberdade política de uma sociedade capaz de governar-se por si mesma e de forma independente, quer dizer, com autodeterminação.”

Buzzi (2000) ao analisar a possibilidade de desenvolvimento da autonomia mediante o propósito de uma metodologia filosófica entre mestres(as) e alunos(as), considera que a autonomia ocorre em momentos/situações vivenciadas em nosso dia-a-dia passando pelos aspectos da força de vontade, do cuidar e cuidado, passando pelo sentido da existência de uma comunicação universal humana. Vejamos nas palavras do autor:

 

A autonomia na sua ‘qualidade interior’, proveniente do poder da vontade, por decisão indivisível, imerge no fluxo da realidade e se instala na dinâmica de sua regência. É total comunhão por essa imersão absorve em si o vigor nascido do sentido originário, sempre fascinante e misterioso. (BUZZI, 2000, p.141).

 
A criança, desse modo, passa a ter liberdade de pensamento, cuja capacidade de raciocinar e dialogar trabalhada no currículo educacional incluindo uma proposta filosófica, permite que ao longo do processo sinta-se capaz de compartilhar suas dúvidas, curiosidades e saberes de forma investigativa e reflexiva, havendo, desta forma, um olhar mais apurado, ou seja, sistematizado diante das coisas que acontecem no mundo a sua volta e, principalmente, sem a preocupação de está expondo seu pensamento de forma errônea, uma vez que, o diálogo filosófico fará parte de sua rotina, não apenas escolar, mas de vida. Consubstancialmente, é na relação com o outro que tudo acontece.

 
CONSIDERAÇÕES FINAIS


            A tendência a renegar o pensar infantil e, consequentemente, não apostar numa proposta filosófica são enraizados ainda no presente do cotidiano escolar. Por isso os “por quês?” tão presentes na infância, são ignorados por muitos e, principalmente, negados ou respondidos com autoritarismo, buscando reproduzir uma forma única de pensamento. Levar à Filosofia para a escola, é assumir para o docente/mediador(a) e para o outro – a criança - o imprevisível; é assumir uma postura constante de convivência com  a diferença de saberes dinamicamente, que se deixam levar em buscas das questões que envolvem a existência humana das coisas presentes no mundo: ouvindo, falando, agindo, sentindo, complementando, refletindo, transformando e compreendendo que os conceitos, concepções, em especial, na Filosofia acontecem de forma inacabável. Desta forma, sempre irá existir os eternos “por quês?” que tanto as crianças de forma curiosa e maravilhada nos presenteiam ininterruptamente.

            Com base nas reflexões e discussões promovidas ao longo do nosso projeto de pesquisa, foi possível identificar, através da investigação de um olhar filosófico voltado ao mundo infantil, como as concepções do ser criança, as práticas educacionais e as posturas das pessoas (educadores(as) e indivíduos), mediante os discursos e práticas comportamentais, que impõem valores, políticas, conhecimentos, entre outros assuntos, que fazem parte da existência humana, se modificaram e vem sendo transformados ao longo da história e do eterno filosofar.

            As acepções que permeiam as crianças, neste eterno olhar questionador, ultrapassam as barreiras do tempo e espaço do limitado conhecimento das concepções humanas, sejam estas educacionais ou não, em que os modelos adotados são discutíveis e o olhar infantil, mediante as coisas que acontecem no mundo passa a ser considerado.

Abre-se, assim, um espaço transformador na perspectiva educacional e vida cotidiana dessas crianças como protagonistas desse cotidiano como: reflexivas, transformadoras do mundo que as cerca, cujo, o processo dialógico filosófico pode acontecer, sim, na infância. E nós, educadores(as), através de um currículo específico somos mediadores(as) de conhecimentos, e nas trocas com o filosofar infantil, nos tornamos também aprendizes.

 
REFERÊNCIAS

BUZZI, Arcângelo R. Filosofia para principiantes. 11 ed. Petrópolis, RJ:  Vozes, 2000.

 CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 12 ed. São Paulo: Ática,2001.

FREIRE,Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.


GHIRALDELLI Jr., Paulo. O que é Filosofia para crianças. In: Construir Notícias. Ano 8, maio/junho de 2009. Multi Marcas Editoriais Ltda. Recife/PE. pp. 5-7.

 GOVEIA, Maria C.S. de, & SARMENTO, Manuel. (org.). Estudos de infância: educação e práticas sociais. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.


JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. 3 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.


KOHAN, Walter O. & KENNEDY, David. (org.). Filosofia e Infância, possibilidades de um encontro. v. 3, Petrópolis, Vozes, 2000.

 _____. Filosofia para crianças. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.

 LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. 3 ed. São Paulo: Summus, 1990.


________. A filosofia na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.

 LORIERI, Marcos. Perguntando por mais um dos pressupostos educacionais do progama filosofia para crianças de Matthew Lipman. In: KOHAN, Walter O. LEAL, Bernardina. (org.). Filosofia para Criança em Debate. v. 4. Petrópolis, Vozes, 2000.


NOVA ESCOLA. Grandes Pensadores: a história do pensamento pedagógico do Ocidente pela obra de seus maiores expoentes. Edição especial. Julho/2088. Abril. São Paulo, SP. 78p.

SILVEIRA, René José Trentin. A Filosofia vai à Escola? Autores Associados, 2001.

 WESRTBROOK, Robert B.; TEIXEIRA, Anísio. John Dewey. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Massangana, 2010.

SALES, Conceição Gislâne Nóbrega de. Infância e Filosofia: Um encontro possível? O que dizem as crianças. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/


Acesso em 11/08/2012, às 16h:00min.

 OVERMUNDO, Deborah Guarana. O conceito da história da infância.


Acesso em 15/08/2012 às 19h:31min.

 

 

                                                      

 




[1] Membro do Projeto de Pesquisa PIBIC, “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. E-mail: alaci.pedagogia@hotmail.com
[2] Membro do Projeto de Pesquisa PIBIC, “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. E-mail: danmour27@yahoo.com.br
[3] Professor do Curso de Licenciatura em Filosofia-DFI/UERN e membro do Projeto de Pesquisa PIBIC,  “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. E-mail: dedasouza1@gmail.com
[4] Professora do Curso de Licenciatura em Filosofia-DFI/UERN e coordenadora do Projeto de Pesquisa PIBIC, “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN. mariareilta@hotmail.com
 
 
 

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