segunda-feira, 27 de março de 2017

Encontro semanal do dia 23/03/2017

Encontro do projeto "Filosofia com crianças: pensamento e experiência na escola?"
Data: 23/03/2017
Local: UERN/Campus Caicó/RN.







domingo, 19 de março de 2017

ARTIGO APRESENTADO NO VIII SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UERN/MOSSORÓ/2012:


O CURRÍCULO PROPOSTO PELO PROGRAMA FILOSOFIA PARA CRIANÇAS DE MATTHEW LIPMAN

 Mariana Frutuoso Araújo [1]·; Maria Reilta Dantas Cirino[2]; José Francisco das Chagas Souza[3]

Sarah Regina de Medeiros Dias[4]

 
RESUMO: A filosofia tem suas especificidades, entre elas: o questionar, a investigação, a elaboração de conceitos, a busca de argumentos coerentes para os propósitos defendidos, a descoberta de alternativas e conexões. Preocupado com a pouca capacidade de seus alunos adultos com questões envolvendo pensamentos lógicos e coerentes que norteassem suas ações, Matthew Lipman, propõe a Filosofia para Crianças e elabora um currículo específico para que seja trabalhado com as crianças e os adolescentes, inserindo-os no universo da investigação filosófica. Este artigo, desenvolvido dentro das atividades do Projeto de Pesquisa “Filosofia na infância: perspectivas para o debate” no período de 2011 a 2012, sob a coordenação da professora Ms. Maria Reílta Dantas Cirino do curso de Filosofia, Campus Caicó, tem como objetivo apresentar uma análise sobre um dos aspectos da referida proposta lipmiana – o currículo. Lipman sugere que a educação, que na maioria dos currículos escolares é de transmissão de conhecimentos, sendo o discente um sujeito passivo na elaboração do pensamento, seja proposta a partir de um currículo, que tenha como fundamentação uma educação para o pensar. Lipman acredita que os discentes, por meio do diálogo, serão capazes de elaborar o seu próprio pensamento, sendo o docente mediador e juntamente com os mesmos – discentes e docente – são co-participantes na investigação filosófica.

 

PALAVRAS-CHAVE: Matthew Lipman; Filosofia; Currículo.

 
INTRODUÇÃO

  

... uma criança é mais rapidamente encorajada a participar da educação se esta enfatizar a discussão em vez de exercícios monótonos com papel e escrita. A discussão, por sua vez aguça o raciocínio e as habilidades de investigação das crianças como nenhuma outra coisa pode fazer. (MATTHEW LIPMAN).

 

O presente artigo tem como objetivo apresentar a descrição do currículo do programa de Filosofia para crianças proposto pelo filósofo contemporâneo, Matthew Lipman.  Para Lipman, é possível fazer filosofia na infância, sendo necessário para isso um currículo específico elaborado de acordo com o nível de desenvolvimento de cada etapa da infância.

Matthew Lipman vem desde a década de 60 buscando esclarecer sobre a constituição do pensar na infância e encontra significativo sentido em sua proposta de filosofia na infância. Este artigo, desenvolvido dentro das atividades do Projeto de Pesquisa “Filosofia na infância: perspectivas para o debate”, ofertado pelo Curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Caicó, no período de 2011 a 2012, tem como enfoque principal apresentar uma análise sobre um dos aspectos da referida proposta lipmiana – o currículo – buscando identificar as temáticas filosóficas e pedagógicas na perspectiva de que as mesmas possam ser utilizadas de forma correta à serviço das crianças, no dizer de Lipman “...há muito se desconfiava que a Filosofia carregava dentro de si tesouros pedagógicos de grande generosidade...” (1990, p.19). Usar esses tesouros a serviço das crianças a partir de então, seria romper com os métodos tradicionais de ensino, onde os adultos dotados de conhecimento contavam histórias às crianças explicando as diferenças do pensar, logo, Lipman fundamenta sua proposta ao criar histórias em que as crianças se envolvem numa pequena comunidade de pesquisa e assim surgem, através do diálogo coletivo, as descobertas entre elas.

Essa proposta é apresentada por Lipman em forma de novelas filosóficas, as quais oportunizam às crianças a análise dos fatos e diálogos que envolvem os personagens das referidas novelas através do diálogo filosófico de caráter reflexivo, crítico e investigativo. Tais diálogos, que devem ocorrer no espaço institucional, utilizam uma metodologia denominada por Lipman de Comunidade de Investigação, a qual configura-se como um método que observa o disciplinamento do processo científico, utilizando-se para isso do diálogo investigativo. O currículo inclui manuais, destinados à orientação do(a) docente com sugestões de diversas atividades para a mediação dos diálogos; exercícios com planos de discussões que se desenvolvem a partir das ideias principais contidas nas novelas e que se relacionam com o cotidiano das crianças. A proposta de filosofia na infância de Lipman, a qual passaremos a discorrer, aborda os três primeiros níveis de educação básica, da educação infantil ao ensino médio.

Tomamos como fundamentos teóricos as seguintes obras: A filosofia vai à escola, Lipman (1990); A Filosofia na sala de aula, Lipman; Sharp; Oscanyan (2001); Um olhar sobre o ensino de filosofia, Fávero; Rauber; Kohan, (2002); Filosofia para crianças, Kohan (2008), entre outras.

A análise considera também os princípios metodológicos e as condições necessárias para a efetivação prática da referida proposta, sem, contudo, enaltecer a filosofia como algo que venha solucionar ou remediar problemas identificados na educação, já que a proposta de filosofia para crianças é uma temática nova para boa parte da educação brasileira e ainda não se concretizou oficialmente nos sistemas educacionais.

 
O CURRÍCULO DA PROPOSTA DE FILOSOFIA PARA CRIANÇAS SEGUNDO MATTHEW LIPMAN

 
Matthew Lipman sistematizou um programa de ensino denominado de Filosofia para Crianças - FpC, com o qual pretendia reformar o sistema educacional americano, a seu ver até aquele momento incapaz de promover o desenvolvimento adequado do raciocínio e da capacidade de julgar dos(as) discentes. Para tanto, de acordo com Lipman, a prática da filosofia era indispensável. Além de buscar fundamentar teoricamente o papel da filosofia na educação das crianças, o autor desenvolveu uma metodologia e um currículo específicos, destinados às escolas, pois defendia que o espaço institucional era adequado para a prática filosófica desde a infância.

Até o momento só há um currículo de FpC, publicado pelo IAPC – Institute for the Advancement of Philosophy for Children. Esse programa surgiu em 1969 e tem se expandido desde 1974. Analisando o programa do IAPC a filosofia pode ser trabalhada desde a pré-escola até o Ensino Médio.

Para dar início ao Programa de Filosofia para Crianças, a proposta de educação para o pensar, Lipman elaborou um material didático composto por seis livros-textos (destinados às crianças), em forma de novelas, incluindo os respectivos manuais de exercícios abrangendo Lógica, Ética, Estética., Metafísica, Epistemologia, Filosofia Social e Política e Filosofia das Ciências.

Os textos reflexivos veiculados nas novelas, além de abranger os temas citados anteriormente, são atuais e discorrem diante personagens imaginários envolvidos em problemáticas, tendo em vista o objetivo principal que é o de preparar o educando para o desenvolvimento de uma cidadania responsável.

De acordo com o currículo, para ser utilizado na filosofia com crianças, podemos abstrair que as novelas são direcionadas a idades e graus de escolaridade diferentes. De acordo com- Lorieri (2011), são elas:

 

·         Hospital de Bonecos e Geraldo – destinados aos primeiros anos da Educação Infantil, ambos trabalham a iniciação aos procedimentos da investigação filosófica;

·         Elfie – destinado à Educação Infantil, trabalha a investigação filosófica em comunidade;

·         Rebeca – destinado à Educação Infantil, trabalha o imaginário infantil;

·         Issao e Guga – destinados às 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental, trabalha filosofia da natureza;

·         Pimpa – destinados a 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, trabalha significado da linguagem e sua significação;

·         Nous – destinado às 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, trabalha formação ética;

·         A descoberta de Telles – destinado à 5ª e 6 ª séries do Ensino Fundamental, incentiva a comunidade investigativa através do diálogo;

·         Luísa – destinado à 8ª série do Ensino Fundamental, trabalha ética e moral;

·         Suki – destinado ao Ensino Médio, trabalha estética;

·         Mark – destinado ao Ensino Médio, trabalha filosofia social e política.

 

Sobre o programa apresentado acima, Kohan (1998, p.88) salienta que: “Os romances apresentam em todos os casos, personagens modelo da mesma idade das crianças que os leem. Cada romance apresenta uma espinha dorsal de habilidades cognitivas que se aplicam a inúmeros problemas filosóficos”.

Segundo Lipman, essas habilidades quando desenvolvidas desde cedo, oferecem à criança instrumentos essenciais para o desenvolvimento de sua racionalidade, e consequentemente do pensar bem.

 
FORMANDO A COMUNIDADE DE INVESTIGAÇÃO E A BUSCA PELO SENTIDO

 
As análises realizadas através da metodologia de Comunidades de Investigação são baseadas na fundamentação de temáticas propostas pelo currículo considerando os aspectos necessários para essa tentativa de fazer as crianças não somente interagir com a filosofia, como também, vivenciar o pensar filosoficamente, na busca do significado e novas descobertas. O currículo é composto por oito programas (destinados à educação infantil e ao ensino fundamental) que serão descritos mais a frente, foi desenvolvido e planejado para ser trabalhado por dois anos cada, e dois programas criados exclusivamente para o ensino médio. A intenção de Lipman ao formular cada novela foi de provocar o amadurecimento e qualidade do pensamento das crianças e adolescentes, ao introduzir conteúdos de lógica, teoria do conhecimento, ética, estética, filosofia social e política, implícitos nas novelas. (KOHAN, 2008).

Antes de chegar aos princípios metodológicos propriamente ditos, é necessário compreender a relação entre infância e o filosofar. É preciso entender que o ensino de filosofia com crianças não possui os mesmos pressupostos metodológicos do ensino médio e/ou superior. Não se trata de ensinar a história da Filosofia, nem tampouco apresentá-las às correntes filosóficas, mas sim, ensinar a filosofar no sentido de estimular o pensamento e a reflexão sobre diferentes áreas como Lógica, Moral, Ètica e outras. Além disso, é preciso refletir a maneira de ensinar filosofia, podendo utilizar brincadeiras, jogos de regras, contação de histórias e diálogos, debates como estratégias didáticas que permitem a prática de filosofar com crianças.

Apesar dessa afirmação, ainda há questionamentos frequentes, principalmente por filósofos, dentre os quais – como ensinar filosofia para crianças?  As crianças tem capacidade de aprenderem filosofia? Tais perguntas podem ser tomadas por caráter preconceituoso, advindas de teorias que concebem a criança como ser incompleto, consequentemente, incapazes de aprender conceitos tão abstratos quanto os da Filosofia.

A expressão Filosofia para Crianças teve sua criação com os estudos de Matthew Lipman, que é um dos grandes pesquisadores da inclusão do ensino de Filosofia na educação infantil. Suas obras têm como objetivo preparar o discente para a reflexão e exercício do pensamento, o que se dá por meio das próprias indagações acerca dos objetos que estão em sua volta e que lhes causa “espanto”. Ao iniciar o estudo sobre a inclusão de Filosofia na educação infantil, Lipman nos responde sobre os preconceitos apresentados por aqueles que não acreditam ou que duvidem da possibilidade de um filosofar na infância. Em A Filosofia vai à escola, Lipman (1990, p. 61) argumenta:

 
... O fazer filosofia exige conversação, diálogo e comunidade, que não são compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional. A filosofia impõe que a classe se converta numa comunidade de investigação, onde estudantes e professores possam conversar como pessoas e como membros da mesma comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se das ideias conjuntamente, construir sobre as ideias dos outros; onde possam pensar independentemente, procurar razões para seus pontos de vista, explorar suas pressuposições; e possam trazer para suas vidas uma nova percepção do que é descobrir, inventar, interpretar e criticar.

  

A proposta Lipmiana, se baseia na preparação metodológica por meio de indagação, da pergunta, da curiosidade que levará à investigação daquilo que se deseja saber. Ou seja, o ponto principal da metodologia se baseia na oportunidade que é dada às crianças de dialogarem investigando acerca de questões filosóficas, confrontando, corrigindo e aprimorando novas considerações sobre essas questões, o que lhes oportuniza o desenvolvimento da capacidade de argumentar; formular hipóteses; compreender enunciados; elaborar questões e expressar-se verbalmente, desenvolvendo raciocínio lógico e habilidades cognitivas.

Para ensinar as crianças a desenvolverem o pensar bem por meio da filosofia e da Lógica, Lipman, cria os romances em forma de novelas filosóficas que pretendem reconstruir os problemas da tradição filosófica outrora abordada pelos filósofos nas narrativas filosóficas. As histórias possuem um gênero literário - a novela. Os romances são escritos de acordo com a faixa etária dos(as) discentes e abrangem o ensino desde a pré-escola até o nível médio. O currículo é composto por um programa com um manual específico para cada um dos romances, sendo o manual o material de consulta para o(a) professor(a) com as orientações metodológicas. Cada novela desenvolve uma temática filosófica e a aborda em forma de diálogo, pelas quais as crianças identificam-se com os personagens e são conduzidas às argumentações, contra-argumentações, elaboração de conceitos, hipóteses, deduções, entre outras. Vejamos no quadro a seguir o que cada novela propõe, segundo o programa de Lipman, e conforme Kohan (2008, p. 52):

NOVELAS FILOSÓFICAS
ELFIE
ISSAO E GUGA
PIMPA
NAUS
Ano de publicação 2.ed.
1988
1982/86
1981
1996
Manual
Colocando juntos nossos pensamentos
Maravilhando-se com o mundo
Em busca dos sentidos
Decidindo o que fazer
Idade
5-6 anos
7-8 anos
9-10 anos
9-10 anos
Série escolar
Pré-escola
1ª e 2ª séries
3ªe 4ª séries
3ªe 4ª séries
Temas
Comunidade de investigação filosófica
Filosofia da natureza
Filosofia da linguagem/ antologia
Formação ética
Novelas filosóficas
A descoberta de Ari dos Telles
Luíza
Satie
Marcos
Ano de publicação 2.ed.
1974/82
1976/83
1078
1980
Manual
Investigações filosóficas
Investigações éticas
Investigações
Estéticas
Investigações
Social
Idade
11-12 anos
13-15 anos
13-17 anos
13-17 anos
Série escolar
5ª e 6ª séries
7ªe 8ª séries
Ensino médio
Ensino médio
Temas
Lógica/ teoria do conhecimento/filosofia da Educação
Ética
Estética
Filosofia Social e Política

De acordo com o quadro acima, o currículo lipmiano é uma proposta para que desde a educação infantil a criança seja inserida em atividades/exercícios de investigações filosóficas e já seja estimulada ao pensar reflexivo para que não sinta tanta dificuldade na elaboração desse pensar nas séries posteriores, estando-se, assim aproveitando o potencial da infância caracterizada por seus constantes questionamentos. Sendo assim, a criança aberta ao conhecimento, e tendo o(a) professor(a) como mediador(a), poderá, por meio do diálogo e das situações propostas pelas novelas, desenvolver as habilidades de raciocínio necessárias à elaboração do pensamento de ordem superior, que segundo Lipman (1990), é o pensar certo, crítico e criativo que formará o cidadão apto a atuar de forma democrática em sociedade.

A proposta de Lipman de modo algum diminui a figura do(a) docente ao propor que as crianças vão descobrindo o significado por si mesmas, ao contrário, somente ele – o(a) docente - é capaz de conduzir esse processo a tal finalidade. Portanto, os princípios metodológicos e as condições necessárias para efetivação dessa prática dar-se-ão, além da autonomia contida nas novelas, pois nota-se que os temas filosóficos apresentados nas novelas aparecem e sempre tornam a aparecer cada vez com maior profundidade, na medida em que o(a) professor(a) retoma as discussões e as conduzem considerando os pensamentos e opiniões diversos das crianças. Então Lipman (2001, p. 118) afirma:

 

O método de descoberta de todas as crianças nas novelas é o diálogo combinado com a reflexão. Esse diálogo com os colegas, professores, pais, avós e outras pessoas, alternado com reflexões sobre o que foi dito, é o veículo básico por meio do qual os personagens nas histórias aprendem. E é assim também que os estudantes reais aprendem: falando e pensando nas coisas.

 

O que Lipman mostra é que a aprendizagem ocorre nesse cenário de interação entre as crianças e seu ambiente, pessoas, objetos e todo contexto que lhe é significativo, pais, familiares, amigos, sociedade e inclusive a sala de aula. Em todos esses contextos, o currículo é mediado pelo (a) professor(a), através do qual, pelo diálogo, são identificadas diferentes alternativas, destacando-se as que são mais importantes para as crianças, e assim, juntos – como Comunidade de Investigação perceberão o conhecimento, elaborando e reelaborando diferentes formas de pensar sendo essas perceptíveis em suas vivências no agir, no falar, em atitudes e procedimentos, essas aplicáveis em tudo quanto fizerem, ou seja, em qualquer situação.

 
CONSIDERAÇÕES FINAIS

 
Muitas vezes a ausência de questionamentos por parte do(a) aluno(a) pode implicar em um modo de ensino que apenas preocupa-se em transmitir conteúdos, e consequentemente, um tipo de aprendizagem que não se distingue de uma reprodução de conceitos, de definições, de noções, sem efetivamente, favorecer aos discentes o processo de pensar acerca do que já foi produzido por outros. E deste modo compromete até mesmo os processos de avaliação que apenas verificam se os conteúdos foram memorizados de forma adequada, ou seja, na avaliação dos mesmos são “jogados” para que se possa ter a certeza que o(a) aluno(a) captou o que foi ensinado em sala de aula.

Lipman afirma em sua proposta que o questionamento dos(as) discentes em sala de aula é de suma relevância, devendo ser proporcionado aos(as) mesmos desde os anos iniciais, pois assim, o(a) discente se habitua e exercita-se a fazer intervenções, sendo para isso necessário, o ouvir, o falar, o pensar sobre o ouvido e sobre o falar individual. Esse hábito incide diretamente no processo de pensar de cada um, o qual vai sendo reelaborado individual e coletivamente. Lipman considera que fica muito difícil chegar ao pensar crítico e reflexivo quando esse processo somente é proposto aos(as) discentes já adultos. Para isso defende que as reflexões filosóficas através de currículo próprio sejam proporcionadas às crianças inserindo-as no mundo da investigação filosófica, da compreensão e do debate.

Portanto, ao contrário de algumas críticas (SILVEIRA, 2001; GHIRALDELLI, 2009)  apresentadas ao Programa de Lipman, a criança pode sim ser iniciada na filosofia. Nesse sentido, os estudos realizados até o presente momento pelo Projeto “Filosofia na infância: perspectivas para o debate” apontam para essa possibilidade. Consideramos que as experiências que se vive enquanto criança ficarão marcadas cognitivamente e constituem e reconstituem o pensar infantil, perspectivando em processo um pensamento cada vez mais certo, crítico e criterioso sobre o mundo e os objetos. Nas palavras de Sardi (2002, p. 113), “... há aqueles em que um relativo deslumbramento, um estranhamento, uma atitude diferenciada frente aos acontecimentos gerarão questões de outra ordem [...] de pensar, de sentir que rompia com o costumeiro.” Assim ao lembrarmos tais experiências, serão recordadas e classificadas como significativas e ver-se-á que as relações entre filosofia e infância são de todo modo tão espontâneas, do que normalmente não se consegue perceber.
 

REFERÊNCIAS

GHIRALDELLI JR., Paulo. O que é Filosofia para crianças. In: Construir Notícias. Ano 8, maio/junho de 2009. Multi Marcas Editoriais Ltda. Recife/PE. pp. 5-7.


KOHAN, Walter Omar. Filosofia para crianças. 2.ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.


LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. [tradução de Maria Elice de Brzezinski Prestes e Lucia Maria Silva Kremer]. São Paulo: Summus, 1990. (Novas buscas em educação; v. 39).


LIPMAN, Matthew; SHARP, A. Margaret; OSCANYAN, Frederick S. A filosofia na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.

LORIERI, Antônio Marcos. Filosofia: fundamentos e métodos. 2011. Cortez.

 SARDI, Sérgio A. A vivência como princípio metodológico. In: FÁVERO, Altair Alberto; RAUBER, Jaime José; KOHAN, Walter Omar. (orgs.). Um olhar sobre o ensino de filosofia. Ijuí: UNIJUÍ: 2002. pp. 113- 128. (coleção filosofia e ensino).

 SILVEIRA, René José Trentin. A Filosofia Vai a Escola? Autores Associados: 2001.

 



[1] Discente do curso de Licenciatura em Filosofia, Campus Caicó, UERN. e-mail: maryaraujo90@gmail.com
[2] Docente do Departamento de Filosofia, Campus Caicó, UERN. e-mail: mariareilta@hotmail.com
[3] Docente do Departamento de Filosofia, Campus Caicó, UERN. e-mail: dedasouza1@gmail.com
[4] Membro do Projeto de Pesquisa “Filosofia na infância: perspectivas para o debate”, Pedagoga/UFRN. e-mail: sarahdias@yahoo.com.br
RESUMO EXPANDIDO APRESENTADO NA VII SEMANA DE FILOSOFIA DO CAMPUS CAICÓ/2016:

FILOSOFIA NA INFÂNCIA

 

Carmélia Teixeira de Sousa

Aluna do Curso de Licenciatura em Filosofia, Campus Caicó-CaC/UERN;

Bolsista voluntária do PIBIC:

Projeto - Filosofia com crianças: pensamento e experiência na escola?;

Bolsista do subprojeto PIBID Filosofia Campus Caicó-CaC/UERN;

Membro do Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica.


 

João Marcelo Soares de Sousa

Aluno do Curso de Licenciatura em Filosofia, Campus Caicó-CaC/UERN;

Bolsista voluntário do projeto PIBIC:

Projeto - Filosofia com crianças: pensamento e experiência na escola?;

Bolsista do subprojeto PIBID Filosofia Campus Caicó-CaC/UERN;

Membro do Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica.


 

Prof. Esp. Sueny Nóbrega Soares de Brito

Supervisora do subprojeto PIBID Filosofia Campus Caicó-CaC/UERN;

Membro do Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica.


 

 

O presente trabalho tem por objetivo expor os conceitos de filosofia e infância na concepção de Matthew Lipman por meio das obras de Walter Omar Kohan, Filosofia para crianças, 2ª e 3ª edição, e Filosofia na escola pública. Considerará os aspectos históricos da formação dos referidos conceitos, a partir da perspectiva de que o saber pensar constitui um importante papel na vida escolar das crianças. Em meio a problemática que envolve a iniciação da filosofia na educação infantil, há uma necessidade de pensar em um profissional adequado para ministrar as aulas.

 

1 PROGRAMA FILOSOFIA PARA CRIANÇAS

 

              Em 1960 o filósofo norte-americano Matthew Lipman se tornou o primeiro a pensar na contribuição da filosofia para formação integral do indivíduo durante a infância, sistematizando a prática da filosofia para a educação das crianças. Dessa maneira, criou um programa de filosofia voltado a uma Educação para o Pensar. Em Kohan (1998), há algo em comum entre as crianças e os filósofos: a capacidade de se maravilhar com o mundo.

              O programa filosofia para crianças tem por objetivo desenvolver a capacidade de pensar melhor, buscando incentivar as crianças e jovens a exercerem um pensamento reflexivo, rigoroso, crítico, profundo, criativo, cuidadoso, contextualizado e autocorretivo. Existe, naturalmente, na Filosofia um convite ao raciocínio e a refletir sobre os próximos pensamentos, ou sobre a atividade mental de si mesmo que, quando exercitada, nos leva ao pensamento reflexivo e autocorretivo, dessa forma, há o ensejo de criar um método capaz de aprimorar as habilidades do pensar.

 

2 CONCEPÇÕES DE FILOSOFIA E INFÂNCIA E CARACTERÍSTICAS DO PROFISSIONAL A ATUAR

 

              Afinal, qual é o conceito de infância? A infância tem sido historicamente compreendida como uma fase muito importante da vida humana na qual reúne as características essenciais que guiarão toda a conduta das fases seguintes e que marcarão de forma crucial toda a esfera do comportamento do indivíduo tanto em sua interioridade e subjetividade, quanto nas suas relações sociais objetivas. As crianças são filósofos inatos não apenas porque perguntam e se inquietam com as certezas, mas também porque são seres capazes de pensar de forma crítica, criativa e cuidadosa.

              Quanto a filosofia, qual a concepção adotada? Em Kohan (1998) é colocado a concepção de Lipman a respeito de filosofia, caracterizando-a como o pensar sobre o próprio pensar, sendo necessário ter conhecimento da lógica do pensar para poder praticá-la. Apenas a filosofia pode estabelecer seus próprios métodos para resolver suas próprias questões, não servindo somente à democracia, porém, sendo propriamente uma prática coletiva e democrática.

              De acordo com as concepções de filosofia e infância, interpreta-se que a filosofia para crianças é uma tentativa de conceber um filosofar entre crianças e adolescentes, um pensar sobre o próprio pensar.

               Sendo assim, almeja que as metas filosóficas sejam também metas educativas, proporcionando um aperfeiçoamento na forma de questionar e interrogar. A filosofia por se ocupar do próprio pensar, contribui para a transformação das pessoas que a praticam dentro e fora da escola. 

              Em Kohan (2000), o filosofar e a construção coletiva de saberes, no convívio com as crianças, se complementam com o saber teórico a respeito de infância, filosofia e pedagogia. Com relação ao papel do professor, Kohan (2000, p. 95), afirma:

Não se trata de reproduzir conteúdos ou doutrinas filosóficas da forma como foram apropriadas. Trata-se, de modo oposto, do reconhecimento do não-saber diante das questões e situações problematizadas pelas crianças em suas investigações. Ao professor cabe envolver-se na busca de significados e novos sentidos para o dia-a-dia compartilhado com as crianças, cabe torna-se um co-investigador. Isso não impede que ele atue como coordenador das discussões preparando as aulas, selecionando materiais didáticos, elaborando instrumentos avaliativos, preparando perguntas de aprofundamento, enfim, envolvendo-se previamente com a aula. Isso não também não lhe confere uma posição de neutralidade ou não-envolvimento com a organização do trabalho pedagógico e filosófico a ser realizado.

 

              Dessa forma, o professor tem a função de mediador, atribuindo um sentido de colaborador. O docente deve basear sua postura filosófica em um alicerce de estudos, experiências e reflexões. É preciso que as crianças estejam envolvidas na aula desde o planejar ao fazer, isso não retirará o papel do professor, mas, tornará o processo mais eficaz.

              Diante da problemática exposta, é observável que, na concepção de Lipman e Kohan, a introdução da filosofia na infância proporciona as pessoas melhores condições de se conhecerem desde a mais tenra idade, tomando suas decisões sem a obrigatoriedade de seguir um modelo social já estabelecido, fazendo com que a infância se torne um período de maior desenvolvimento e nas fases seguintes venham a ter habilidades de crítica, investigação e desnaturalização. A criança, em si, por ser considerada um sujeito capaz de adquirir significação desenvolverá um maior senso crítico ao ter acesso a filosofia, única disciplina capaz de pensar sobre o próprio pensar.

 
REFERÊNCIAS:

 KOHAN, Walter Omar. Filosofia na escola pública. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

 KOHAN, Walter Omar. Filosofia para crianças. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2008.

 KOHAN, Walter Omar. Filosofia para crianças. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1998.