domingo, 19 de março de 2017

ARTIGO APRESENTADO NO II CBPFIL/UFPE/RECIFE/2012


FILOSOFIA E INFÂNCIA: O PENSAR INFANTIL NA PROPOSTA DE LIPMAN

 

Do Ó Maria de Souza (UERN)[1]

Maria de Fátima Dantas(UERN) [2]

José Francisco das Chagas Souza (UERN)[3]

Maria Reilta Dantas Cirino (UERN)[4]

 

RESUMO:  Os estudos sobre a constituição do pensamento infantil têm demonstrado que esse aspecto inerente ao processo de desenvolvimento humano precisa ser trabalhado desde a mais tenra idade. Matthew Lipman, filósofo norte americano, vem desde a década de 60 buscando esclarecer sobre a constituição do pensar na infância e encontra significativo sentido para esse argumento em sua proposta de filosofia na infância. Este artigo, desenvolvido dentro das atividades do Projeto de Pesquisa Filosofia na infância: perspectivas para o debate, ofertado pelo Curso de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN,Campus Caicó, no período de 2011 a 2012,tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre um dos aspectos da proposta de Lipman, o pensar na infância, buscando identificar como o pensar infantil é compreendido por Lipman. Na análise e discussão dessas duas obras foi possível identificar que para Lipman, o desenvolvimento do pensar é um processo contínuo e constante e pode se iniciar na infância.

Palavras-chave: Pensar. Infância. Matthew Lipman.

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

De acordo com o dicionário Aurélio (2004, p. 474), o pensar pode ser definido como o ato de formar ou combinar no espírito pensamentos e ideias; também é atribuído o sentido de refletir, racionar, reflexionar, meditar. Já para Abagnano (2007, p. 874), na concepção de Descartes “com a palavra pensar”, é tudo que acontece em nós, de tal modo que percebamos algo além daquilo chamado imaginação de querer e imaginar não pensar, ou seja, seria uma certeza de sentir esse raciocínio tomando conta da liberdade de se expressar e de ser prisioneiro sábio do pensar.

Sabe-se que o pensamento numa perspectiva infantil é algo que precisa ser trabalhado desde o início, visto que, quando a criança faz uma pergunta, ela já tem curiosidade de saber mais a respeito dessa determinada reflexão que tanto incomoda seu pensar, tendo assim possibilidade de elaborar novos questionamentos e conceitos criados por elas mesmas, como também, haverá uma reflexão mais precisa e surgirá o diálogo entre crianças e adultos no exercício de conversação e encaminhamentos para o discurso nas Comunidades de Investigação - CI. Com isso, as crianças irão construindo/elaborando, livremente o pensar e o conhecimento sobre o mundo e seus objetos, paulatinamente, mediado pelo diálogo.

Japiassú e Marcondes (1996, p. 165) enfatizam que “o indivíduo livre é aquele que é capaz de autodeterminar-se, ou seja, de agir em conformidade com sua própria vontade sem nenhuma determinação exterior”. Ser livre é agir de acordo com sua própria opinião vinda do seu pensamento. Com isso, a cada dia, o progresso que vai sendo adquirido através da conversação entre adultos e crianças vai gerando novas formas de pensar cada vez melhor, criando atitudes e trazendo contribuições aos diversos temas abordados nas comunidades de investigação. Dessa forma, o pensar está sendo despertado nas crianças em sua maneira de julgar, indagar, questionar algo independentemente de qual seja a idade para refletir filosoficamente, pois, o desenvolvimento do pensar é um processo.

Ainda, de acordo com Japiassú e Marcondes (1996, p. 299), o termo pensamento origina-se do Latim Pensare que significa “pensar, refletir”, implica dizer, quando o indivíduo “toma decisões sobre a realização de uma ação”. Para isso ocorrer, precisa que essa tomada de decisão seja um passo dado de forma autônoma para deixar fluir o raciocínio. No momento em que julga apropriado, ou no momento em que as crianças julgam ser apropriado, essas utilizam-se/exercitam-se  nas características éticas do diálogo que são vividas/ensinadas às crianças mediante a participação nas discussões de sala de aula.

Matthew Lipman, filósofo norte americano, vem desde a década de 60 buscando, esclarecer sobre a constituição do pensar na infância. Este artigo, desenvolvido dentro das atividades do projeto de pesquisa Filosofia na Infância: perspectivas para o debate, ofertado pelo Curso de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN, no período de 2011 a 2012, tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre o aspecto do pensar na infância, buscando identificar como o pensar infantil é compreendido por Lipman. Para essa finalidade tomaremos como fundamentos teóricos, principalmente, as seguintes obras: A Filosofia vai à escola (LIPMAN, 1990) e A Filosofia na sala de aula (LIPMAN; SHARP; OSCANYAN, 2001). Lipman recebeu significativas influências do pensamento de John Dewey. Esse autor considera que a constituição do pensar independe da idade. Inicia-se com a experiência, ou seja, para pensar sobre algo, o indivíduo necessita ser colocado no interior de uma situação que o leve a agir, a mobilizar-se mentalmente sobre o fato ou objeto. Em consequência desse contato “... o ato de pensar requer idéias. (sic). Após o contato do educando com os dados de sua própria experiência e da experiência dos outros, tem-se o momento da inferência, do salto para o desconhecido, da inventividade. Revela-se, então, a face criativa e original de todo ato de pensar...” (CUNHA, 1994, p. 54).

Já para Lipman (2001, p. 86) “... é extremamente difícil especificar  as origens do raciocínio infantil”. Contudo, o autor defende que para desenvolver o pensar é necessário adquirir/exercitar algumas habilidades tais como inferências, a criatividade, o crescimento pessoal e interpessoal, a capacidade de encontrar sentido na experiência, descobrir e identificar alternativas sobre os objetos e fatos, descobrir a imparcialidade, a coerência, a capacidade de oferecer razões para as crenças, a globalidade, descobrir situações e as relações parte-todo.

Possibilitar o desenvolvimento de tais habilidades é, segundo Lipman, investir no pensamento infantil crítico, criterioso e cuidadoso apontando para a elaboração da reflexão. Pensar  nas habilidades, na proposta de Lipman, significa fundamentalmente tentar perceber  a capacidade da criança para a reflexão sobre o mundo e seus significados potencializando seu desenvolvimento como criança e posteriormente para a vida adulta.

 

A criança e sua capacidade de  pensar

 

De acordo com Chauí (2005), a capacidade de pensar é nossa identidade como seres racionais e capazes de conhecimento e que se concretiza pela experiência de selecionar, imaginar, memorizar, observar, falar, avaliar, entre outros, para com base nesses aspectos, serem elaborados conceitos, tomar posições, pensar e repensar as ações cotidianas.

Lipman (2008, p. 52) ao considerar o desenvolvimento do pensamento através da linguagem, visto que sua proposta baseia-se na metodologia das Comunidades de Investigação – C.I.[5], identifica que existem na criança condições pré-linguísticas para o desenvolvimento da lógica para o pensar:

 

 

As crianças começam a sondar, examinar, inferir e indagar muito antes da aquisição da linguagem. A medida que o comportamento verbal emerge, este é tanto gramatical quanto lógico; as crianças adquirem as regras da lógica e da gramática juntamente com as palavras e seus significados.

 

 

Embora Lipman reconheça que o pensar é natural, argumenta, que, diferente de outras habilidades naturais, o pensar pode ser aprimorado: “O pensar é natural mas também pode ser considerado uma habilidade passível de ser aperfeiçoada (LIPMAN, 2001, p.34). Implica dizer, que existem pensamentos com habilidade  e pensamentos sem significado e que desde que sejam dadas as oportunidades adequadas, as crianças podem desenvolver continuamente e cada vez mais e melhor o seu pensar.

O papel da filosofia para crianças é oportunizar o desenvolvimento do pensamento habilidoso para o exercício da habilidade de pensar bem, fazendo inferências, buscando respostas para suas inquietações. Como também, “tirar inferências que nos sejam válidas pode não ser considerado como pensar bem, mas, no entanto, é pensamento.”(LIPMAN, 2001, p. 35). Por exemplo, quando a criança diz algo que não tem lógica para aquilo que está sendo debatido na roda de conversa, esse pensamento é considerado um pensamento simples que precisa ser trabalhado para poder “ajudá-las a terem mais consideração e serem mais razoáveis”. (idem, ibidem). Assim, as crianças têm capacidade de refletirem sobre os problemas e fatos  que são abordados dentro da Comunidade de Investigação.

Nesse contexto, as crianças buscam inferências dentro do seu pensar com lógica para as atividades vivenciadas no seu cotidiano e no ambiente escolar. Então, mediante esses critérios, as crianças desenvolvem habilidades de se expressarem com lógica e compreenderem melhor o que está pensando, bem como as leituras que são realizadas, o ouvir, o que falar, argumentar e contra-argumentar na comunidade de investigação.

Conquanto Lipman (2001, p. 39) afirma:

 

 

Naturalmente, quanto mais facilidade as crianças têm em fazer inferências, mais significados serão capazes; de  extrair daquilo que lêem. E isso, por sua vez, tornará a sua leitura mais satisfatória. E quanto mais satisfeitas ficarem com o que lêem, mais continuarão lendo - seja para se distrair, seja porque gostam, ou seja para compreender.

 

 

Na visão de Lipman (2001), a quantidade de inferências que as crianças fazem no meio em que vivem não têm limites para ampliar o significado daquilo que elas interagem. Essa capacidade, quando bem aproveitada, interfere diretamente no processo do pensar infantil, visto que quando a criança não consegue fazer suficientes e boas inferências as causas podem ser as mais diversas, tais como inferências a partir de percepções simples, inferências lógicas e a partir de diversos tipos de dados. (LIPMAN, 2001). Além disso, “Filosofia para crianças deveria incentivá-las a fazer melhores inferências, ajudá-las a identificar a evidência é a reconhecer as inferências incorretas.” (LIPMAN, 2001, p. 93).

A criatividade e a imaginação é também um forte potencial infantil, os quais podem ser utilizados no desenvolvimento do pensar infantil, desde que o adulto consiga compreender e interagir com as crianças considerando e valorizando a perspectiva infantil e não a do adulto.   Com isso,

 

 

O mérito de filosofia para crianças está em permitir que a aula se torne um fórum para ventilar assuntos relevantes para os problemas das próprias crianças, assuntos suficientemente variados para que o apelo não se reduza aos aspectos manipuladores da inteligência infantil, mas alcance também os aspectos contemplativos e criativos. (LIPMAN, 2001, p. 92).

 

 

Dessa forma, Lipman enfoca que a aula de filosofia para crianças aborde  temas/problemas vindas do cotidiano da criança, ou seja, tais temas infantis gerarão outros temas,  possibilitando o exercício da conversação, a reflexão, o questionamento sobre posições inválidas ou não suficientemente compreendidas. Esse é o caminho que propõe a filosofia na infância acreditando que fará “com que as crianças explorem seus próprios pensamentos e experiências por meio do uso de técnicas filosóficas extraídas da inesgotavelmente rica, tradição filosófica”. (LIPMAN, 2001, p. 92).

Considerando o que Lipman afirma acima, a filosofia é o meio pelo qual, a criança pode participar do exercício de conversação e descobrir na sua fala, na fala de seus colegas e do(a) docente quanto está fazendo  inferências corretas ou incorretas, para desse modo ir incidindo no seu processo de pensar, desenvolvendo um pensar cada vez mais crítico e criterioso. Sendo assim, “a abordagem adotada nesse programa supõe, que o pensamento lógico pode ser incentivado por meio de atividade criativa, que a criatividade pode ser alimentada pelo desenvolvimento da capacidade lógica.” (LIPMAN, 2001, p. 84). Esse exercício pode utilizar dentro da Comunidade de Investigação diversas atividades criativas, tais como: jogos, dramatizações, marionetes e outras formas, dando significados aos diálogos e despertando a atenção  da criança, fazendo-as ter/criar ideias através da imaginação, possibilitando o desenvolvimento de sua capacidade de pensar e de participar com êxito na comunidade de investigação. Contudo, para atuar dessa forma a vir a criar essa possibilidade de desenvolvimento do potencial do pensamento da criança, é necessário uma determinada postura/perfil do profissional docente. É a respeito das nuances desse aspecto que trataremos no tópico a seguir.

 

O perfil do docente para atuar na Filosofia na infância

 

Lipman propõe que seja vivenciada a filosofia com crianças como uma prática, um fazer. Para isso elabora um currículo específico proposto através de Novelas Filosóficas[6] com temas tais como: a ética, o belo, o bem, a verdade, entre outros, em forma de diálogos a serem desenvolvidos com as crianças no espaço institucional. Considerando a especificidade do espaço institucional é necessário pensar como deverá ser o docente para atuar em tal proposta. Qual seu perfil? Qual sua formação?

O docente para atuar dentro das Comunidades de Investigação necessita de uma formação específica. Lipman  esclarece sobre a insuficiência da formação ofertada nos cursos de licenciaturas dentro das academias, identificando que nem mesmo a Licenciatura em Filosofia viabiliza a formação necessária para a especificidade da filosofia na infância. Vejamos:

 

 

... às vezes os professores tem cursos de filosofia da educação. [...]. Mas tais cursos são inúteis no que se refere a preparar o professor para incentivar as crianças a pensarem filosoficamente. Um curso universitário de filosofia não prepara o professor para traduzir conceitos e a terminologia da filosofia de uma maneira que as crianças possam entender. (LIPMAN, 2001, p. 74).

 

 

Nesse sentido Lipman compreende que é necessário o professor passar por uma experiência de formação na qual ele – o professor – irá vivenciar metodologicamente o mesmo processo mediador que desenvolverá posteriormente com seus alunos. Assim propõe que a formação do docente ocorra dentro do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças – FpC através de seminários e oficinas organizados em quatro estágios, respectivamente: 1) o preparo de monitores, 2) o estágio de exploração do currículo, 3) o estágio modelador e, 4) o estágio de observação.

O primeiro estágio formativo refere-se à formação de uma equipe de professores formadores, os quais irão preparar os futuros  professores para atuarem junto às crianças. Esses são chamados monitores, e necessitam ter um “sólido conhecimento filosófico” (LIPMAN, 2001, p. 176). O estágio dura de dez a quatorze dias, nos quais os monitores conhecem o currículo, tiram dúvidas, e tem uma experiência direta com crianças “para estabelecer a credibilidade junto aos professores”. (LIPMAN, 2001, p. 177); o segundo estágio, exploração do currículo, nesse estágio é utilizada a mesma metodologia a qual o professor trabalhará com as crianças. Organizam-se grupos por nível, tais como professores do quinto e sexto ano ou do terceiro e quarto. Sempre que possível possibilita-se estratégias que possam oferecer o conhecimento do currículo como um todo, para além do ano em que o professor atuará, pois se acredita que “Quanto mais os professores estiverem inteirados do currículo todo, mais perspicácia terão para abordar qualquer parte dele.” (Idem, Ibidem).

No terceiro estágio, etapa de modelação, os monitores vão às salas dos professores em formação e realizam sessões modeladoras, ou seja demonstram, na prática, como desenvolver uma aula de filosofia com crianças. Já o último estágio, que se refere ao período de observação, ocorre após seis meses de execução da proposta junto às crianças. Os professores monitores retornam às salas dos professores em formação e mediante critérios avaliativos analisam os progressos e prestam esclarecimentos. Mediante essa formação inicial, a qual deverá ser continuamente alimentada, Lipman (2001, p. 181) acredita que:

 

 

... com treinamento e prática adequados, a conscientização do professor quanto à dimensão filosófica e uma não filosófica torna-se tão evidente que não pedimos mais para ser mostrada. Isto não significa que o professor se tornou um filósofo, mas é a prova da competência do professor em dirigir uma discussão filosófica, em observar firmemente a regra básica de não bloquear a linha da investigação e de acompanhar com atenção aonde ela conduz.

 

 

Nesse sentido, mediante a adequada formação do professor, esse poderá efetivar nos espaços escolas uma educação filosófica que levará as crianças a desenvolverem uma capacidade que lhes é inerente: o pensar de ordem superior. Para isso torna-se necessário o desenvolvimento das habilidades de investigação, tradução, raciocínio, de formação de conceitos, autocorreção, dentre outras defendidas por Lipman (2001).

            Dentre os objetivos do programa lipmaniano de habilidades de pensamento, um dos aspectos ressaltados é o desenvolvimento do juízo, posto que as crianças dotadas de tais habilidades, serão capazes de escutarem melhor, estudarem melhor, aprenderem melhor e a se expressarem melhor, ou seja, produzirem seus próprios julgamentos em relação a uma problemática, fundamentar melhor suas ideias e questionarem as opiniões de outrem.

Lipman (2001) identifica sete tipos de pensamentos a serem instigados em sala de aula, são eles: 

- Pensamento autônomo: é o pensamento próprio, com o qual os alunos formam maneiras próprias de pensar os temas propostos pelo professor;

- Pensamento reflexivo: é o desenvolvimento do hábito de retomar os próprios pensamentos para os pensar de novo, tendo em vista aprimorá-los;

- Pensamento crítico: é o pensamento capaz de por em crise o “eu acho”, de rever, problematizar o pensamento, buscando a reflexão e a sensibilização ao contexto;

- Pensamento rigoroso: é o mesmo que sistemático e ordenado. É o desenvolvimento da capacidade de cuidar das mediações múltiplas de relacionamento necessárias e saber passar por elas, amadurecendo o pensado;

- Pensamento radical – é a não satisfação com a aparência, busca a análise e compreensão dos fatos e das coisas;

- Pensamento abrangente: buscar ver os fatos, as coisas e situações como parte de um todo abrangente;

- Pensamento criativo: é um pensamento inventivo, aberto a novas possibilidades e sensível aos critérios contrários, assim como orientado pelo contexto (holístico).

Nesse sentido, a criança que adquire competências nas habilidades de pensar não é simplesmente uma criança que cresceu, mas uma criança que teve sua capacidade de crescer ampliada, visto que “os homens que não pensam perderam a habilidade de conhecer,” (LORIERI, 2002, p. 93). Nesse sentido, Lipman (apud KOHAN, 2008, p. 47) assevera a validade de implantação de uma proposta de filosofia na infância visto que essa aponta diretamente para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da capacidade de pensar infantil, tendo o potencial de trazer significativas contribuições pessoais e sociais, pois que ao terem a oportunidade de se exercitarem na Filosofia para Crianças “não se educa apenas para o pensar, mas para o pensar de ordem superior, e não só se educa para o pensar de ordem superior, se educa para uma cidadania democrática.” (idem, ibidem).

 

 

Considerações finais

 

 

De acordo com os argumentos supracitados, é possível afirmar que todos os humanos realizam atividades de pensamento. Entretanto, nem todos as realizam bem, especialmente quando é para articular a produção de um pensamento objetivo, claro e consistente. Assim, especialmente na infância, para que as crianças possam pensar bem e cada vez melhor é necessário que tenham desenvolvido as habilidades de pensamento. Entendendo-se por habilidade a capacidade de fazer ou de expressar algo de forma coerente e com competência. Os estudos realizados até o presente momento apontam que essa capacidade pode ser iniciada na infância.

            Algumas estratégias podem e devem ser adotadas pelos professores com suas crianças para a arte do bem pensar, tais como observar, imaginar, indagar, perguntar, refletir, inferir, dentre outros. (LORIERI, 2002). Partindo do proposto, é notória a necessidade de desenvolver as habilidades de pensamento. Lipman (2001, p. 11) afirma que “o fortalecimento do pensar na criança deveria ser a principal atividade das escolas e não somente uma conseqüência casual.” O que o autor quer afirmar na verdade é que o Sistema Educacional vigente comete um equívoco quando acredita que através dos conteúdos trabalhados pelas diversas disciplinas já estar automaticamente favorecendo nas crianças um pensar de ordem superior.

            O pensar de nível superior, crítico e criativo é para Lipman (2001) a mola propulsora do que ele denomina de habilidades de pensamento, que quando utilizado no contexto situacional problematizador e significativo para as crianças, essas demonstram capacidades no pensar bem. Isso pode ser realizado, de acordo com Lipman (2001), entre outros aspectos, mediante uma proposta de filosofia na infância, a própria capacidade de pensar infantil e a adequada formação dos docentes para atuarem como mediadores nesse fazer filosofia na infância.

 

Referências bibliográficas

 AURÉLIO SÉCULO XXI. Disponível em: 74.86.137.64. reverse.softlayer.com. Acesso em 23/08/2012.


ABBAGNAMO, Nicole, 1901-1990. Dicionário de Filosofia- Tradução da 1 coleção brasileira. Coordenadora e revista por Alfredo Bossi; revisão de tradução dos novos textos- Ivone Castilho Benedeta, 5 vol. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13 ed. São Paulo: Àtica. 2005.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3. ed. rer. e amp. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1996.

LIPMAN, Matthew. A Filosofia vai à escola. Tradução de Maria Elice de Brzezinski Prestes e Lucia Maria Silva Kremer. São Paulo: Summus, 1990. (Novas buscas em educação; v. 39).

_____; SHARP, Anne Margaret; OSCANYAN, Frederck S. A Filosofia na sala de aula. Tradução de Anna Luiza Fernandes Marcondes. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.

_____. O pensar na educação. Tradução de Ann Mary Fighiera Perpétuo. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

 LORIERI, Marcos Antônio. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
Grupo de Pesquisa “Filosofia e Educação”, do Curso de Licenciatura em Filosofia do Campus Caicó – UERN. Projeto de Pesquisa Filosofia na infância: perspectivas para o debate. E-mail: mariareilta@hotmail.com



[1] Membro do Projeto de Pesquisa PIBIC “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN.
[2] Membro do Projeto de Pesquisa PIBIC “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN.
[3] Professor do Curso de Licenciatura em Filosofia-DFI/UERN e membro do Projeto de Pesquisa PIBIC  “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN.
[4] Professora do Curso de Licenciatura em Filosofia-DFI/UERN e coordenadora do Projeto de Pesquisa PIBIC “Filosofia e infância: perspectivas para o debate”/DFI/UERN.
 
[5] As comunidades de Investigação constituem-se em dispor as crianças em circulo para a prática do dialogo filosófico e mediante a confiança e respeito entre os participantes, as crianças são orientadas ao exercício do filosofar,que Lipman esse exercício possibilita o “exame autocorretivo de maneiras alternativas de fazer, dizer e agir” (LIPMAN, 1990, p.10).
[6] Constituída de oito novelas, o currículo criado por Lipman e seus colaboradores são diálogos entre crianças, professores, pais e vizinhos. Elaborou também manuais que acompanham as “Novelas”, os quais propõem exercícios e planos de discussão. Os temas abarcam desde a educação infantil até o ensino médio. (LIPMAN, 2008).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentar é essencial e pode enriquecer nosso espaço.