terça-feira, 29 de outubro de 2019

VI ENCONTRO GT FILOSOFAR & ENSINAR A FILOSOFAR/ SÃO LUÍS/MARANHÃO


EVENTO EM SÃO LUÍS/ MA

15 a 17 de outubro de 2019



TRABALHO APRESENTADO


   FILOSOFIA E INFÂNCIA: FORMAÇÃO DOCENTE PARA  ATUAR EM FILOSOFIA                                                         PARA/COM CRIANÇAS

AUTORAS: 
Gizolene de Fátima Barbosa da Silva Cantalice
Bolsista de Iniciação Científica/PIBIC/CNPq/UERN.

Profª. Drª. Maria Reilta Dantas Cirino





 "Pensar é dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”.      JORGE     LARROSA






momentos impares para aqueles que estão "abertos" para o novo. 






INTRODUÇÃO

As inquietações apresentadas no presente artigo, decorrem das experiências de estudos e práticas como bolsista do Projeto de Pesquisa – PIBIC/CNPq/UERN “Infâncias do pensar: filosofia e experiência na escola de educação básica”, ofertado pelo Curso de Licenciatura em Filosofia, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Caicó. Tais experiências tem nos levado a pensar e intervir em práticas de “experiências de pensamento” com crianças na escola pública na educação infantil e no ensino fundamental. Temos nos inquietado com os desafios presentes nesses espaços de atuação. Indagamos: qual a formação necessária ao/à docente para atuar em filosofia para/com crianças? Nessa perspectiva, esse artigo buscará compreender a formação do docente para atuar em filosofia para/com crianças a considerar os fundamentos teóricos de Lipman; Sarp; Oscanyan (2001), Kohan (2008), Kohan; Olarieta (2012 e Cirino (2016).
Ao final, identificaremos como ocorre a formação do/a docente para atuar em filosofia para/com crianças na visão de Lipman, criador do Programa de Filosofia para crianças – PFpC, o qual toma outros desdobramentos através dos estudos e práticas coordenadas pelo filósofo Walter Kohan junto às atividades do Projeto de Pesquisa e Extensão “Em Caxias, a filosofia en-caixa?”.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
        
A relação entre a filosofia e a infância historicamente registra mais aspectos relacionados a uma visão negativa da criança como ser incapaz, como vivenciando um estado da vida ainda inacabado, o qual não tem controle das emoções e dos desejos. Ou seja, por muitos séculos, a criança é considerada na tradição filosófica como um ser sem razão. Também podemos perceber a característica da infância na perspectiva daquilo que ela virá a ser, no sentido de modelagem de uma educação pensada pelo prisma da possibilidade de que podemos fabricar através das crianças o adulto que desejamos formar.
Exemplos dessa visão negativa podem ser encontrados de acordo com Kohan (2008) em A República, no Teeteto, de Platão, bem como em várias obras de Aristóteles. Contudo, há outros registros na trajetória da Filosofia de uma visão mais favorável à criança. Por exemplo em Heráclico, no fragmento 52, quando esse apresenta a imagem da criança relacionando-a ao tempo-devir, ao tempo aiônico, ao jogo. Nessa analogia, a visão proporcionada por Heráclito aponta para uma criança capaz de jogar: “Nesse jogo o decisivo não é a sorte, mas a capacidade de situar-se na luta, saber bloquear o caminho do adversário e ultrapassar suas defesas. ” (KOHAN, 2008, p. 11).
Numa perspectiva contrária à predominante relação negativa entre infância e filosofia é o movimento de Filosofia para Crianças - FpC, criado por Matthew Lipman, no final da década de 1960. Lipman critica a tradição educacional de distanciamento e conteúdos que não são significativos para as crianças. Propõe, através do seu Programa de Filosofia para Crianças – PFpC, a reforma do sistema educacional, a qual deveria aproximar a filosofia e a infância em um movimento que, através do desenvolvimento do raciocínio filosófico, contribua, desde a infância para desenvolver a capacidade de argumentar, julgar e pensar cada vez melhor.
Com esse intuito, Lipman estruturou uma teoria e uma prática, que pretendia levar à filosofia às crianças e ao mesmo tempo, de acordo com Kohan (2008, p. 15), inaugura “[...] uma nova área ou campo de interesse da própria filosofia [...]” com inspiração socrática e nos fundamentos teóricos/pragmáticos de John Dewey. O PFpC, de Lipman, é composto por um currículo, denominado de Novelas Filosóficas, tem como metodologia, as Comunidades de Investigação e preconiza que para atuar como docente no contexto da FpC, necessita-se de uma formação específica. Em seu PFpC, a formação dos docentes ocorre através de quatro seminários formativos junto ao Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças - CBFpC. Essa formação é necessária, segundo Lipman (1990), pois o mesmo acredita que os Cursos de Licenciaturas não formam, adequadamente, para a atuação em FpC.
Diferentemente de Lipman (1990), Lipman; Sharp; Oscanyan, (2001), Kohan (2012) não defende um método específico para a formação do professor. Essa formação acontece no movimento que vai ocorrendo entre a universidade e a escola de educação básica e conjuntamente com as crianças nas experiências de pensamento. A formação em Kohan; Olarieta (2012) é um processo colaborativo, ou seja, não há uma sistematização ou um método a ser seguido o que se faz indispensável é a disponibilidade e abertura à “experiência de pensamento”. Assim sendo, percebe-se que mesmo com perspectivas diferentes em suas práticas de filosofia “para” e “com” crianças, ambos defendem a necessidade de uma formação específica para o/a professor/a que irá atuar em tais práticas tendo em vista contribuir para o desenvolvimento do filosofar das crianças desde a educação infantil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi discutido neste texto percebemos claramente a diferença da formação do/a professor/a que irá mediar uma Comunidade de Investigação do PFpC de Lipman e docente que irá compor uma Experiência de pensamento na Filosofia com Crianças de Walter Kohan. Enquanto o primeiro precisa passar por uma formação sistematizada, rigorosa e determinada, o outro necessita estar aberto a experienciar uma experiência de pensamento. Desse modo, sua formação vai acontecendo no processo colaborativo que envolve todo o movimento que vai compondo a experiência. Podemos perceber que Lipman e Kohan almejam os mesmos objetivos, ou seja, pretendem desenvolver, através do diálogo filosófico, que se dá na comunidade de investigação ou na experiência de pensamento, a capacidade filosófica, ou pensamento reflexivo, das crianças, considerando ambos os autores, mesmo que de perspectivas diferentes, que a formação do/a docente para atuar em filosofia para/com crianças é um dos aspectos necessário de ser considerado na perspectiva de contribuir com a construção da autonomia dos estudantes.

REFERÊNCIAS

CIRINO, M.R.D. Filosofia com Crianças: cenas de experiências em Caicó (RN), Rio de janeiro (RJ) e La Plata (Argentina). Rio de Janeiro/RJ: NEFI, 2016 (Coleção Teses e Dissertações).

DANIEL, Marie-France. A filosofia e as crianças. Prefácio de Matthew Lipman. Tradução de: Luciano Vieira Machado. São Paulo: Nova Alexandria, 2000.

KOHAN, Walter Omar. Filosofia para crianças. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.

______; OLARIETA, Beatriz Fabiana. (Orgs.). A escola pública aposta no pensamento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. Tradução de: Maria Elice Brzezinski Prestes e Lúcia Maria Silva Kennedy. São Paulo: Summus, 1990.

______; SHARP, Ann Margaret; OSCANYAN, Frederick S. A filosofia na sala de aula. Tradução de Ana Luiza Fernandes Falcone. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.


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