EVENTO EM SÃO LUÍS/ MA
15 a 17 de outubro de 2019
TRABALHO APRESENTADO
FILOSOFIA E INFÂNCIA: FORMAÇÃO DOCENTE PARA ATUAR EM FILOSOFIA PARA/COM CRIANÇAS
Gizolene de Fátima Barbosa da Silva Cantalice
Bolsista de Iniciação Científica/PIBIC/CNPq/UERN.
Profª. Drª. Maria Reilta Dantas Cirino
"
Pensar é dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”. JORGE LARROSA
momentos impares para aqueles que estão "abertos" para o novo.
INTRODUÇÃO
As inquietações
apresentadas no presente artigo, decorrem das experiências de estudos e
práticas como bolsista do Projeto de Pesquisa – PIBIC/CNPq/UERN “Infâncias do
pensar: filosofia e experiência na escola de educação básica”, ofertado pelo
Curso de Licenciatura em Filosofia, da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN, Campus Caicó. Tais experiências tem nos levado a pensar e
intervir em práticas de “experiências de pensamento” com crianças na escola
pública na educação infantil e no ensino fundamental. Temos nos inquietado com
os desafios presentes nesses espaços de atuação. Indagamos: qual a formação
necessária ao/à docente para atuar em filosofia para/com crianças? Nessa
perspectiva, esse artigo buscará compreender a formação do docente para atuar
em filosofia para/com crianças a considerar os fundamentos teóricos de Lipman;
Sarp; Oscanyan (2001), Kohan (2008), Kohan; Olarieta (2012 e Cirino (2016).
Ao final, identificaremos como ocorre a
formação do/a docente para atuar em filosofia para/com crianças na visão de
Lipman, criador do Programa de Filosofia para crianças – PFpC, o qual toma
outros desdobramentos através dos estudos e práticas coordenadas pelo filósofo
Walter Kohan junto às atividades do Projeto de Pesquisa e Extensão “Em Caxias,
a filosofia en-caixa?”.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
A relação entre a filosofia e
a infância historicamente registra mais aspectos relacionados a uma visão
negativa da criança como ser incapaz, como vivenciando um estado da vida ainda
inacabado, o qual não tem controle das emoções e dos desejos. Ou seja, por
muitos séculos, a criança é considerada na tradição filosófica como um ser sem
razão. Também podemos perceber a característica da infância na perspectiva
daquilo que ela virá a ser, no sentido de modelagem de uma educação pensada
pelo prisma da possibilidade de que podemos fabricar através das crianças o
adulto que desejamos formar.
Exemplos dessa visão negativa
podem ser encontrados de acordo com Kohan (2008) em A República, no Teeteto, de
Platão, bem como em várias obras de Aristóteles. Contudo, há outros registros
na trajetória da Filosofia de uma visão mais favorável à criança. Por exemplo
em Heráclico, no fragmento 52, quando esse apresenta a imagem da criança
relacionando-a ao tempo-devir, ao tempo aiônico, ao jogo. Nessa analogia, a
visão proporcionada por Heráclito aponta para uma criança capaz de jogar:
“Nesse jogo o decisivo não é a sorte, mas a capacidade de situar-se na luta,
saber bloquear o caminho do adversário e ultrapassar suas defesas. ” (KOHAN,
2008, p. 11).
Numa perspectiva contrária à
predominante relação negativa entre infância e filosofia é o movimento de
Filosofia para Crianças - FpC, criado por Matthew Lipman, no final da década de
1960. Lipman critica a tradição educacional de distanciamento e conteúdos que
não são significativos para as crianças. Propõe, através do seu Programa de
Filosofia para Crianças – PFpC, a reforma do sistema educacional, a qual
deveria aproximar a filosofia e a infância em um movimento que, através do
desenvolvimento do raciocínio filosófico, contribua, desde a infância para
desenvolver a capacidade de argumentar, julgar e pensar cada vez melhor.
Com esse intuito, Lipman
estruturou uma teoria e uma prática, que pretendia levar à filosofia às
crianças e ao mesmo tempo, de acordo com Kohan (2008, p. 15), inaugura “[...]
uma nova área ou campo de interesse da própria filosofia [...]” com inspiração
socrática e nos fundamentos teóricos/pragmáticos de John Dewey. O PFpC, de
Lipman, é composto por um currículo, denominado de Novelas Filosóficas, tem
como metodologia, as Comunidades de Investigação e preconiza que para atuar
como docente no contexto da FpC, necessita-se de uma formação específica. Em
seu PFpC, a formação dos docentes ocorre através de quatro seminários formativos
junto ao Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças - CBFpC. Essa formação é
necessária, segundo Lipman (1990), pois o mesmo acredita que os Cursos de
Licenciaturas não formam, adequadamente, para a atuação em FpC.
Diferentemente de Lipman (1990), Lipman; Sharp; Oscanyan, (2001), Kohan
(2012) não defende um método específico para a formação do professor. Essa
formação acontece no movimento que vai ocorrendo entre a universidade e a
escola de educação básica e conjuntamente com as crianças nas experiências de
pensamento. A formação em Kohan; Olarieta (2012) é um processo colaborativo, ou
seja, não há uma sistematização ou um método a ser seguido o que se faz
indispensável é a disponibilidade e abertura à “experiência de
pensamento”. Assim sendo, percebe-se que mesmo com perspectivas diferentes em
suas práticas de filosofia “para” e “com” crianças, ambos defendem a
necessidade de uma formação específica para o/a professor/a que irá atuar em
tais práticas tendo em vista contribuir para o desenvolvimento do filosofar das
crianças desde a educação infantil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi discutido neste texto percebemos claramente a
diferença da formação do/a professor/a que irá mediar uma Comunidade de
Investigação do PFpC de Lipman e docente que irá compor uma Experiência de pensamento na Filosofia
com Crianças de Walter
Kohan. Enquanto o primeiro precisa passar por uma formação sistematizada,
rigorosa e determinada, o outro necessita estar aberto a experienciar uma
experiência de pensamento. Desse modo, sua formação vai acontecendo no processo
colaborativo que envolve todo o movimento que vai compondo a experiência.
Podemos perceber que Lipman e Kohan almejam os mesmos objetivos, ou seja,
pretendem desenvolver, através do diálogo filosófico, que se dá na comunidade
de investigação ou na experiência de pensamento, a capacidade filosófica, ou
pensamento reflexivo, das crianças, considerando ambos os autores, mesmo que de
perspectivas diferentes, que a formação do/a docente para atuar em filosofia
para/com crianças é um dos aspectos necessário de ser considerado na
perspectiva de contribuir com a construção da autonomia dos estudantes.
REFERÊNCIAS
CIRINO, M.R.D. Filosofia
com Crianças: cenas de experiências em Caicó (RN), Rio de janeiro (RJ) e La
Plata (Argentina). Rio de Janeiro/RJ: NEFI, 2016 (Coleção Teses e Dissertações).
DANIEL,
Marie-France. A filosofia e as crianças.
Prefácio de Matthew Lipman. Tradução de: Luciano Vieira Machado. São Paulo:
Nova Alexandria, 2000.
KOHAN, Walter Omar. Filosofia para crianças. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
______; OLARIETA, Beatriz Fabiana. (Orgs.). A escola pública aposta no pensamento. Belo Horizonte: Autêntica,
2012.
LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. Tradução de: Maria
Elice Brzezinski Prestes e Lúcia Maria Silva Kennedy. São Paulo: Summus, 1990.
______; SHARP, Ann
Margaret; OSCANYAN, Frederick S. A
filosofia na sala de aula. Tradução de Ana Luiza Fernandes Falcone. São
Paulo: Nova Alexandria, 2001.